A última semana ficará como uma sombra sobre o governo Lula. Viraram réus algumas das figuras mais expressivas que levaram o PT e o presidente Lula ao poder, e deram o contorno do seu primeiro mandato. É preciso um esforço incomensurável de alienação da realidade para achar que nada disso aconteceu no governo Lula, e que eles eram um grupo autônomo e isolado.,
O governo pode sofrer maior ou menor estrago, dependendo da maneira como reagir. A melhor reação é corrigir as falhas da administração, torná-la mais eficiente, melhorar a gestão em todas as áreas, criar barreiras contra novos casos de desvio.
A sensação de governo funcionando, a economia em um bom ritmo e a ausência de novos escândalos podem ir isolando o mensalão no tempo. Isso não afasta os fatos do governo em que eles ocorreram, mas, pelo menos, localiza os ilícitos no tempo.
O segundo governo não é a absolvição, mas pode vir a ser uma segunda chance bem aproveitada.
Há quem, no governo, queira ir nessa linha. A maioria prefere outra, de resultado mais discutível: alimentar o delírio persecutório que domina as hostes petistas.
A senadora do PT Ideli Salvatti, na quinta-feira, saiu daquela lamentável sessão do conselho de ética do Senado para defender, em plenário, um flagrante desse delírio. Protestou contra o fato de o jornal “Valor Econômico” não ter dado, em primeira página, que a pobreza havia caído.
Ela está errada por, pelo menos, três motivos.
Primeiro, a pobreza caiu ao longo dos anos e dos governos. O tempo de comparação começa antes do atual governo, e a meta da ONU é de longo prazo exatamente porque quer medir o empenho do país.
Segundo, cada jornal faz a capa que quiser e um jornal econômico dá normalmente mais destaque às matérias exclusivas. Óbvio.
Terceiro, o que realmente desvalorizava o governo naquela tarde era, mais uma vez, Renan Calheiros e seu abusivo uso do Senado como se fosse sua fazenda. É espantoso que não se consiga perceber em Brasília que um governo ferido por um processo de corrupção e formação de quadrilha, no qual estão incursos ex-ministros, aliados e publicitários, deveria guardar a maior distância possível de um caso tortuoso como o de Renan Calheiros.
Apoiá-lo e defendê-lo é confirmar o pior lado do governo Lula: o da leniência com fatos nebulosos. Deviam querer distância, antes que a memória coletiva resgate a lembrança de que o senador Renan era um apontador de ministros, até estourar o escândalo do uso de lobista de empreiteira para pagar contas privadas e de negócios pecuários suspeitos.
Há formas de atenuar os estragos do processo contra os 40 do mensalão, mas dificilmente o presidente conseguirá escolher a receita mais adequada.
O que provavelmente Lula vai fazer será oscilar entre suas várias inclinações: um, fazer-se de vítima; dois, acusar um ente incorpóreo, “eles”, de tentar atingi-lo; três, criticar a mídia; quatro, dizer que é coisa da elite que governa este país há 500 anos; cinco, elogiar seu governo e se colocar de véspera no Panteão da Pátria ao lado de quem estiver sendo comemorado. No mês de agosto, foi o de se comparar a Getúlio.
Enquanto isso, as notícias estarão ocupando os jornais; não por conspiração, mas por serem notícias.
Novas denúncias da Procuradoria, o acórdão do ministro relator, os interrogatórios dos acusados, o andamento do processo em si, que vai durar todo o segundo mandato.
É da natureza do segundo mandato que o presidente vá perdendo poder e influência.
Quem tiver dúvidas pense nestes dois últimos anos do presidente Bush. Cada vez mais desimportante.
O poder se alimenta da expectativa de poder; por isso, na segunda parte do segundo mandato, o presidente americano é chamado de lame duck, pato manco. Os olhos já estão magnetizados por Hillary Clinton, Barack Obama e os que ascenderem na gangorra pré-eleitoral.
Enquanto mantiver altos índices de popularidade, o presidente Lula conservará influência na sucessão e o bom humor. Lula lida muito mal com o declínio.
Uma queda no ritmo de crescimento econômico, a alta dos preços dos alimentos encarecendo a cesta básica, um aperto no crédito podem tirar nacos de sua popularidade. Um novo escândalo será um grande desastre.
Há o mito de que nada atinge a popularidade do presidente Lula. Na esteira do estouro do mensalão, sua popularidade despencou, sendo recuperada após todo o esforço publicitário para a reeleição.
O segundo mandato de Lula ainda está no começo, mas a inoperância gerencial, a crise de Renan Calheiros, os ecos do mensalão já queimaram os primeiros oito meses. Os últimos quatro meses do ano serão usados na luta para aprovar a CPMF e a DRU. E assim terá passado seu melhor ano.
No ano que vem, há eleições municipais. Neste contexto, ocorrerá um aprofundamento dos conflitos na base, pois os 15 partidos que formam a coalizão governamental estarão se organizando de acordo com as realidades políticas locais para disputar o poder municipal.
Em 2009, já será o ano anterior à eleição presidencial.
Durante todo esse tempo, as sombras do processo no Supremo estarão sobre o governo e sobre o PT. O processo desarmou o ataque, e o governo será empurrado para jogar na retranca. A menos que tenha um plano, uma estratégia ofensiva que não seja a usual de acusar a mídia e os inimigos difusos ou a repetitiva autolouvação.
Se o governo quiser mesmo se defender, deve se dedicar ao trabalho de governar. Seu empenho em bem administrar o país pode afastar um pouco as sombras dos 40 réus.
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
Arquivo do blog
-
▼
2007
(5161)
-
▼
setembro
(429)
- Miriam Leitão Usos e costumes
- Merval Pereira - Bolsa 2.0
- DANUZA LEÃO A tal da carência
- João Ubaldo Ribeiro O golpe já começou (2)
- DANIEL PISA
- Alberto Tamer
- Mailson da Nóbrega
- A Petrobrás invadida Suely Caldas
- Celso Ming
- DORA KRAMER O Judiciário e a cooptação
- ELIANE CANTANHÊDE Um ano depois
- No caso de MG, empréstimos foram pagos; no esquema...
- Gaspari erra feio na conta e na cota
- VEJA Carta ao leitor
- VEJA : Alain Ducasse
- MILLÔR
- André Petry
- Radar
- Diogo Mainardi McCarthy estava certo
- Roberto Pompeu de Toledo
- Lula na ONU: um discurso com conteúdo
- Entidade ligada a Ideli Salvatti é investigada
- Renan manda e o PMDB derrota o governo
- Febraban divulga tabela de tarifas bancárias
- MST O avanço dos assentados nas universidades p...
- Irã O perigo de uma guerra preventiva
- Mianmar A revolta dos monges
- Che Guevara, quarenta anos de um mito
- Sputnik: cinqüenta anos de exploração espacial
- As piores escolas de direito
- O avanço das algas tóxicas
- As fraudes de um cientista holandês
- A reação positiva de um doente terminal
- Empresas limpam o nome de pessoas atacadas na rede
- O show de Marta no Mundial de futebol feminino
- Desonrada, de Mukhtar Mai
- Dois épicos editados em português
- O seriado The Tudors no canal People+Arts
- Um sopro de novidade para o jazz
- CLÓVIS ROSSI
- MELCHIADES FILHO O capital
- RUY CASTRO Lobbies que venceram
- Miriam Leitão A recuperação
- Merval Pereira - Emancipação
- FERNANDO GABEIRA
- Celso Ming
- DORA KRAMER Cada um por si
- Entrevista de Diego Mainardi a Diego Casagrande
- Clipping de 28 de stembro
- Clóvis Rossi - Uma questão de "consciência"
- Eliane Cantanhede - Güenta!
- Merval Pereira - Aparências
- Míriam Leitão - Parada estratégica
- Somos das elites, sim
- Clipping de 27 de setembro
- Míriam Leitão - Nos tempos do bagre
- Merval Pereira - Tragicomédi...
- Eliane Cantanhede - Peixes e abobrinhas
- Dora Kramer - Relações comerciais
- Clóvis Rossi - Walfrido, quero o meu
- A culpa é de quem?-Gilberto de Mello Kujawski
- Governo federal piora nas contas fiscais
- Clipping de 26 de setembro
- Merval Pereira - A máquina petista
- Míriam Leitão - Lavoura arcaica
- Dora Kramer - Aonde vão os valentes?
- Celso Ming - A crise mudou de lado
- Clóvis Rossi - A banalização do absurdo
- Lula na ONU Ambiciosamente irrelevante
- Clipping de 25 de setembro
- Merval Pereira - Expectativa de poder
- Míriam Leitão - Moeda de troca
- Luiz Garcia - Crianças nas calçadas
- Clovis Rossi- As estatísticas e a vida real
- Eliane Cantanhede - Zuanazzi, duro na queda
- Celso Ming - Mergulho global
- Dora Kramer - No cravo e na ferradura
- Arnaldo Jabor - O futuro pode ser melhor do que pe...
- Jânio de Freitas - O acusador
- Rubens Barbosa, O MERCOSUL E A VENEZUELA
- Um terrorista nos EUA por Reinaldo Azevedo
- Serra sai em defesa de Aécio
- Clipping de 24 de setembro
- RUY CASTRO Outra cidade limpa
- Memória mutilada por Antonio Sepulveda
- A PRESSA É INIMIGA DA DEMOCRACIA
- Entrevista de ao Lula NYTIMES
- AUGUSTO NUNES SETE DIAS
- Miriam Leitão Crianças e velhos
- Merval Pereira - Oligarquias e poder
- FERREIRA GULLAR
- DANUZA LEÃO
- ELIANE CANTANHÊDE
- João Ubaldo Ribeiro
- DANIEL PISA
- Alberto Tamer Petróleo a US$ 80 estraga a festa
- Mailson da Nóbrega Quem estabilizou a economia
- Lula segue os passos de FHC
- Celso Ming
- DORA KRAMER Dando sorte ao azar
-
▼
setembro
(429)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA