Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, outubro 12, 2018

J. R. GUZZO O PARTIDO ANTILULA




J.R. Guzzo.   VEJA
Durante as próximas três semanas você vai ler, ver e ouvir um oceano de explicações perfeitas sobre o que aconteceu nas eleições deste domingo – e em todas elas, naturalmente, os cérebros da análise política nacional dirão ao público o quanto acertaram nos seus pronunciamentos durante a campanha eleitoral, embora tenha acontecido em geral o contrário de quase tudo que disseram. A mesma cantoria, com alguns retoques, deve ser feita daqui para frente para lhe instruir em relação ao desfecho do segundo turno, no próximo dia 28 de outubro. Em favor da economia de tempo, assim, pode ser útil anotar algumas realidades básicas que o primeiro turno deixou demonstradas.
1 – A grande força política que existe no Brasil de hoje se chama antipetismo. É isso que deu ao primeiro colocado, Jair Bolsonaro, 18 milhões de votos a mais que o total obtido pelo “poste” do ex-presidente Lula. Esqueça a “onda conservadora”, o avanço do “fascismo”, as ameaças de “retrocesso” – bem como toda essa discussão sobre homofobia, racismo, machismo, defesa da ditadura e mais do mesmo. Esqueça, obviamente, a força do PSL, que é nenhuma, ou o esquema político do candidato, que não existe. O que há na vida real é uma rejeição tamanho gigante contra Lula e tudo o que cheira a Lula. Quem melhor soube representar essa repulsa foi Bolsonaro. Por isso, e só por isso, ficou com o primeiro lugar.
2 – O PT, como já havia acontecido nas eleições municipais de 2016, foi triturado pela massa dos eleitores brasileiros. Seu candidato a presidente não conseguiu mais que um quarto dos votos. Os candidatos do partido a governador nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul tiveram votações ridículas. Todos os seus candidatos “ícone” ao Senado, como Dilma Rousseff em Minas Gerais, Eduardo Suplicy em São Paulo e Lindbergh Farias no Rio de Janeiro foram transformados em paçoca, deixando o PT sem um único senador nos três maiores colégios eleitorais do Brasil. Mais uma vez, o partido só tem a festejar a votação no Nordeste – e mais uma vez, ali, aparece aliado com tudo que existe de mais atrasado na política brasileira.
3 – A força política de Lula, que continua sendo descrito como um gênio incomparável no “jogo do poder”, é do exato tamanho dos resultados obtidos nas urnas pelo seu “poste”. As mais extraordinárias profecias vêm sendo repetidas, há meses, sobre a sua capacidade de “transferir votos” e a sua inteligência praticamente sobre-humana em tudo o que se refere à política. Encerrada a apuração, Lula continua exatamente onde estava – trancado num xadrez em Curitiba e com muito cartaz do “New York Times”, mas sem força para mandar em nada.
4 – Os institutos de “pesquisa de intenção de voto”, mais uma vez, fizeram previsões calamitosamente erradas. Dilma, segundo garantiam, ia ser a “senadora mais votada do Brasil”. Ficou num quarto lugar humilhante. Suplicy, uma espécie de Tiririca-2 de São Paulo, também era dado como “eleito”. Foi varrido do mapa. Os primeiros colocados para governador de Minas e Rio de Janeiro foram ignorados pelas pesquisas praticamente até a véspera da eleição. Tinham 1% dos votos, ou coisa que o valha. Deu no que deu.
5 – O tempo de televisão e rádio no horário eleitoral obrigatório, sempre tido como uma vantagem monumental — e sempre vendido a peso de ouro pelas gangues partidárias — está valendo zero em termos nacionais. Geraldo Alckmin tinha o maior espaço nos meios eletrônicos. Acabou com menos de 5% dos votos. Bolsonaro não tinha nem 1 minuto. Foi o primeiro colocado. Parece não valer mais nada, igualmente, a propaganda fabricada por gênios do “marketing eleitoral” da modalidade Duda Mendonça-João Santana – caríssima, paga com dinheiro roubado e criada numa usina central de produção. A votação de Bolsonaro foi construída nas redes sociais, sem comando único e sem verbas milionárias.
Daqui até 28 de outubro o público será apresentado a outras previsões, teoremas e choques de sabedoria. É bom não perder de vista o que acaba de acontecer antes de acreditar no que lhe anunciam para o futuro.

quinta-feira, abril 05, 2018

A verdade sobre Bolsa Família Estadão

A verdade sobre o Bolsa Família
Não fosse o Bolsa Família, a clamorosa derrota do partido de Lula, que perdeu 60% das prefeituras administradas pela legenda, teria sido ainda pior
O Estado de S.Paulo Editorial
05 Abril 2018 | 03h00
Como se sabe, o programa Bolsa Família dá voto. Por exemplo, nos municípios do Nordeste em que mais da metade da população estava inscrita no programa, a derrota do PT nas eleições de 2016 foi bem menor do que no resto do País. Não fosse o Bolsa Família, a clamorosa derrota do partido de Lula, que perdeu 60% das prefeituras administradas pela legenda, teria sido ainda pior.
Os efeitos eleitorais do Bolsa Família dificultam uma análise objetiva do programa. Tornou-se impopular questionar os seus reais benefícios para a população. Presume-se que transferir dinheiro seja uma boa política pública pelo simples fato de proporcionar uma melhora de renda e de consumo para quem o recebe. A rigor, esse raciocínio nega a necessidade de ponderar sobre os resultados efetivos do programa. Assume-se que ele é bom porque dá dinheiro – e porque dá voto.
Nesse cenário, foi muito oportuno o esclarecimento do ministro do Desenvolvimento Social, Osmar Terra, a respeito dos efeitos do Bolsa Família. “A existência dos programas de transferência de renda não foi suficiente para reduzir a pobreza, só a pobreza extrema, mas não reduziu o número de pobres. A pobreza no Brasil continua intacta. E não reduziu a desigualdade no Brasil nesses 14 anos de Bolsa Família”, afirmou o ministro, num recente evento sobre microcrédito para famílias beneficiárias de programas sociais.
É de grande importância esse realismo diante dos fatos: o Bolsa Família não reduziu o número de pobres. Tal constatação, que para alguns pode soar como heresia, é simples consequência da própria natureza do programa. Ao contrário do que dizia o discurso oficial petista, o Bolsa Família nunca teve como objetivo retirar as pessoas da pobreza.
O PT nunca se preocupou com a chamada porta de saída do Bolsa Família. Os programas sociais que lhe deram origem tinham estratégias para evitar que o beneficiário recebesse indefinidamente a ajuda mensal, exigindo contrapartidas, como, por exemplo, a matrícula das crianças na escola. Na prática, o PT aboliu toda exigência de condição para o recebimento do benefício, simplesmente deixando de controlar as contrapartidas.
Esse modo de atuar do PT evidencia mais do que mero desleixo no acompanhamento do programa. Não estava nos planos da legenda que as pessoas deixassem de necessitar da transferência mensal do Estado. Quando surgiam questionamentos a respeito desse tema, fundamental para um programa social preocupado com seus beneficiários, o PT simplesmente dizia que a saída do Bolsa Família ocorreria na geração seguinte, como se o futuro, por si só, oferecesse uma solução mágica para questão tão decisiva. No entanto, nada assegurava que a renda transferida constituísse de fato uma oportunidade de mudança, de crescimento, de maior autonomia, enfim, de menor dependência do Estado.
O Bolsa Família não só não reduziu o número de pobres, como também não diminuiu a desigualdade no Brasil nos 14 anos de existência do programa social, afirmou o ministro do Desenvolvimento Social. Tem-se, assim, mais um engano do PT revelado. É uma falácia achar que, com simples transferência de renda, se produz desenvolvimento social. O que promove ascensão social é educação de qualidade, emprego com perspectiva de crescimento, investimentos que alavancam a produtividade, condições mínimas de saúde e de saneamento, etc.
Sempre, mas especialmente em ano eleitoral, é necessária a transparência a respeito dos resultados das políticas públicas. Em breve, os eleitores terão de fazer escolhas políticas, com grandes consequências para o País. Eles devem, portanto, estar em condições de avaliar o que deu certo, o que deu errado e o que pode melhorar. O diagnóstico é claro: como programa de combate à pobreza, o Bolsa Família fracassou. Dentro do necessário esforço por livrar-se das amarras do populismo, cabe, portanto, avaliar a conveniência de continuar com um programa cujo maior mérito é transferir votos.

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