Qual é o doce mais doce?
BRASÍLIA - Há duas dúvidas sobre o desfecho da novela da CPMF no Congresso. A primeira, menos relevante, é se Renan Calheiros conseguirá se firmar como articulador da renovação do imposto do cheque. A segunda, essa de interesse público, diz respeito às contrapartidas do governo para arrancar a aprovação até o final do ano.
O toma-lá-dá-cá despudorado seria uma possibilidade. A nomeação de Furnas, para destravar o encaminhamento do tributo na Câmara, mostra que não falta cara-de-pau a ambos os lados. Mas isso não deve bastar. Os partidos da base competem pelos mesmos postos.
Fala-se de novo em reforma tributária, na desoneração das folhas de pagamento privadas. Ninguém põe fé. A era das grandes reformas não veio e pelo jeito não virá.
Um recuo mais incisivo parece fora de questão. Reduzir já a alíquota enfartaria a Fazenda, reabriria as contas da Previdência e sabotaria projetos e urgências da Saúde. Fazê-lo depois de 2010 seria um casuísmo exageradamente pró-Lula.
Ninguém imaginou, também, um doce que sozinho agrade a todos os governadores, influentes cabos eleitorais. Remeter a arrecadação da Cide, por exemplo, serviria para Minas Gerais, mas não para o Amazonas, que tem poucas estradas.
No final, deve rolar de tudo um tico. Essa grande feira livre, contudo, aumenta o risco de a saúde, justo ela, acabar de fora da equação.
Uma saída, já ventilada, seria ampliar o percentual da CPMF de fato repassado ao setor. Usar parte dos 18% (ou tudo!) que o Tesouro hoje toma para alargar o superávit.
Melhor ainda seria se esse dinheiro fosse gerido pelos Estados, que (mal)tratam os pacientes -mas desde que parem de rubricar qualquer gasto como despesa de saúde.
Por fim, seria esperto prorrogar o imposto só até 2009. O Executivo não poderia descumprir a sua parte, como fez em outras vezes, por conta da ameaça de atolar no Congresso em um ano pré-eleitoral.
Entrevista:O Estado inteligente
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