BRASÍLIA - Um jovem controlador de Brasília nem sabia que o plano de vôo previa três altitudes, e seu colega de São José dos Campos simplesmente repassou a autorização de 37 mil pés até o aeroporto Eduardo Gomes, em Manaus.
Dois experientes pilotos americanos sabiam pouco do Legacy, avião novo em folha, e menos ainda das normas aeronáuticas do país.
O Legacy sobrevoou Brasília na altitude errada e seguiu rumo ao Boeing, que voava todo dia em 41 mil pés, mas justamente naquele pediu para baixar para 37 mil. O Cindacta-1 não alertou o Legacy sobre o erro, os pilotos nada perguntaram. Era hora da troca de turno, e o controlador que chegou teve dúvidas, mas o que saía respondeu que estava tudo bem. Não estava.
Já com o transponder inoperante, mas não por isso, foram várias as tentativas de comunicação via rádio entre o controle e o Legacy, que sobrevoava a floresta. Falharam.
O primeiro controlador errou, o segundo errou, o terceiro errou. Os pilotos erraram. E ninguém corrigiu. Brasília não alertou Manaus. O Legacy não baixou para 29 mil pés nem digitou o código de falta de comunicação -o que, aliás, reativaria o fundamental transponder.
Os aviões se chocaram quando um saía do controle do Cindacta-1 para o do 4, e o outro, o inverso. O "winglet" do Legacy atingiu caprichosamente área vital do Boeing, a asa. Cortou-lhe quase 7 metros de asa. O piloto Décio Chaves não teve a mínima chance. O avião despencou e se desintegrou no ar.
Um ano depois, persistem dois mistérios: por que nem o rádio nem o transponder funcionaram? Um raspão do pé do piloto? Uma inserção errônea de códigos? "Mau contato" ou "pane intermitente"?
O acidente impossível deixou 154 mortos e, no rastro, uma crise aérea sem precedente e o clima propício para a explosão do Airbus, dez meses depois. Agora, o importante é saber e entender, para prevenir.