Entrevista:O Estado inteligente

domingo, setembro 30, 2007

A Petrobrás invadida Suely Caldas


Ao justificar nomeações políticas - a sua inclusive - para cargos de direção na Petrobrás, o novo presidente da BR Distribuidora, José Eduardo Dutra, disse que as indicações são políticas, mas os escolhidos são técnicos competentes. Trata-se de uma meia verdade, que, melhor seria, fosse inteira mentira. Ele próprio, Dutra, não se encaixa nem na meia verdade porque se tornou presidente da Petrobrás em 2003 sem nenhuma experiência que comprovasse competência técnica para o cargo. Saiu em 2005 e voltou na terça-feira, desta vez para a presidência da BR, escolhido por três critérios: 1) Perdeu eleição em Sergipe; 2) é militante do PT; e 3) é amigo do presidente Lula.

E como funciona a meia verdade de Dutra? Por que a mentira seria melhor? Desde que Lula e o ex-ministro José Dirceu institucionalizaram a chantagem e o toma-lá, dá-cá nas relações com os partidos aliados, funcionários da Petrobrás passaram a ser assediados por políticos, com promessas de cargos de direção ou promoção em troca de serviços prestados na estatal em favor do partido que assedia. É uma forma de aliciamento com o objetivo de extrair, do poder da Petrobrás de gerar obras e negócios milionários, certos favores e dinheiro extra para o partido. Alguns que não aceitaram o assédio ou ouviram confidências de aliciados contam como funciona o esquema.

O parlamentar procura o funcionário da Petrobrás com o pretexto de explicar a operação de seu interesse, antes rejeitada pela empresa. Na verdade, ele atua como intermediário de um promissor doador de campanha. Um aumento da cota de gasolina para uma distribuidora, rapidez na liberação de dinheiro para obra tocada por determinada empreiteira, enfim, uma infinidade de negócios cotidianos que uma empresa do porte da Petrobrás é capaz de gerar e por onde transita muito, mas muito dinheiro.

Se o funcionário resiste, o político insiste, diz que tem influência, acesso direto a ministros que decidem com Lula e pode ajudá-lo a ser promovido, fazê-lo diretor de uma subsidiária ou da própria Petrobrás. Este é um primeiro contato e também o primeiro teste de lealdade aplicado ao funcionário. Assédio aceito, acerta-se a aprovação da operação em questão e as conversas prosseguem. No encontro seguinte o político pede a lista das empresas que mantêm negócios com aquele setor da Petrobrás. Para quê? Para vender facilidades a outros promissores doadores de dinheiro ao partido. Sacramentado o aliciamento, o político leva o nome do leal funcionário para o partido barganhá-lo numa próxima votação no Congresso de importante matéria de interesse do governo. O funcionário acredita - afinal, assim funciona o governo Lula - ser este o único caminho para ele ascender na empresa ou até manter-se no cargo, livrar-se de retaliação política. E alguns têm cedido.

Por isso José Eduardo Dutra argumenta que os escolhidos têm preparo técnico. Óbvio, mesmo sem brilho, talento ou capacidade gerencial são pessoas com conhecimento e experiência na empresa. Porém a serviço do partido que o indicou, um prestador de favores, facilitador de negócios em favor de amigos generosos do partido aliado de Lula. Por isso Dutra fala uma meia verdade que melhor seria fosse uma mentira inteira. Afinal, aliciar para esse tipo de finalidade é uma prática que desmoraliza a Petrobrás, humilha o aliciado. E extinguir a meritocracia como critério de ascensão profissional - como ocorre hoje - desmotiva os que recusaram o assédio e compromete o desempenho da companhia.

E se Lula decidisse de repente abolir a nomeação política e partidária para a Petrobrás, como fez em 2003 ao fechar as casas de bingo? O que aconteceria? Claro, rebelião sem controle e mais retaliação do PMDB no Congresso. Chantagem é assim mesmo, se o chantagista é bem-sucedido na primeira vez vai em frente, quer sempre mais e mais.

Haveria, no entanto, uma saída se essa fosse mesmo a disposição de Lula: demitir todos os diretores com vinculação partidária, inclusive (e principalmente) os indicados pelo PT, substitui-los por funcionários de carreira, escolhidos por critérios de mérito e competência e fechar definitivamente as portas da Petrobrás para laranjas de políticos e seus partidos.

Como isso jamais vai acontecer, caro leitor, porque não interessa a Lula e muito menos ao PT (como eles gostam de cargo público!), a maior empresa do País, uma história de sucesso que tanto orgulha os brasileiros, continuará sujeita à invasão de aventureiros e aproveitadores. Pelo menos enquanto durar o governo Lula.

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