No dia 9 de outubro de 1967, o guerrilheiro esquerdista Che Guevara foi morto na Bolívia. Quarenta anos depois, apesar da ruína total do socialismo, sua figura permanece intocada no panteão dos mitos. Para a juventude que quer mudar o mundo, o Che congelado na fotografia tirada por Alberto Korda em 1960 – uma das imagens mais reproduzidas de todos os tempos – encarna os ideais de justiça e igualdade. Para os renitentes ideólogos do marxismo, o herói romântico Che é um instrumento facilitador da doutrinação que continuam a fazer em escolas e universidades. Mas quem era o homem a partir do qual se forjou o mito? Haveria uma correspondência exata entre o revolucionário de carne e osso e aquele perenizado em pôsteres e camisetas? A reportagem especial que começa na página 82 desta edição de VEJA responde a essas perguntas.
Nossos repórteres tiveram a rara oportunidade (talvez a última) de conversar com pessoas que conviveram com Che em diferentes etapas de sua trajetória. Eles entrevistaram um companheiro seu de guerrilha, um colega no governo cubano e o responsável pela ordem que deu cabo de sua vida. Além disso, foram ouvidos seis historiadores, especialistas em Che ou na história de Cuba. O trabalho foi completado com a leitura de três biografias e dos textos escritos pelo guerrilheiro, distribuídos em oito volumes. Desse mergulho, emergiram dados curiosos. Um deles é que não há registro de que a famosa frase que lhe foi atribuída – "Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás" – tenha saído de sua boca. Quanto às indagações que moveram a reportagem, conclui-se que o mito esconde uma verdade pouco palatável. Che era um visionário, decerto. Mas foi, sobretudo, um homem feroz, que enxergava na violência um fim em si, e não apenas um meio para atingir seus objetivos.