O Globo |
25/9/2007 |
Como sempre acontece às vésperas das datas que limitam a fidelidade partidária à brasileira, até o próximo dia 5 o governo vai ter uma idéia mais clara de quantos votos precisa para aprovar a CPMF no Senado, onde atualmente tem minoria. É que até lá estarão oficializadas algumas mudanças partidárias importantes nos estados, visando às eleições municipais do próximo ano, e alguns senadores já se preparam para mudar para a base governista, levando todos os seus correligionários. É o caso da Bahia, onde o senador César Borges, do DEM, vai se mudar para o PR e organizar uma base municipal forte. Outros senadores estão sendo chamados pessoalmente pelo presidente Lula, como foi Demostenes Torres, de Goiás, mas dificilmente se decidirão no prazo de filiação. Mas podem continuar o namoro com o governo votando a favor da CPMF. O fato é que os cerca de oito votos que fazem falta ao governo para aprovar uma emenda constitucional no Senado podem ser conseguidos com promessas de apoios futuros na eleição de 2010. Mas também com algumas mudanças nas votações para cassação de senadores, que é o que estará sendo negociado hoje entre os líderes oposicionistas e o líder do governo, Romero Jucá. A oposição já está sentindo que a tentativa de cooptação do Palácio do Planalto, mesmo que não se traduza em mudanças de partido no momento, poderá produzir gestos de boa vontade na votação da CPMF. Acontece que muitos desses senadores que interessam ao governo - para citar apenas alguns nomes, é o caso de Demostenes Torres, César Borges e Romeu Tuma - também têm interesse em tirar Renan Calheiros da presidência da Casa, e é nesse ponto que o destino do político alagoano pode cruzar com os interesses mais imediatos do governo. E ele já perdeu toda sua capacidade de ser o canal de negociação do governo dentro do Senado, capacidade que lhe dava muito poder político e cuja falta revela sua extrema fragilidade atual. A obstrução que a oposição vem fazendo nas votações do Senado tem muito mais o objetivo de tirar Renan da presidência do Senado, de preferência com a sua cassação, do que exatamente impedir a aprovação da CPMF, imposto que interessa aos potenciais candidatos do PSDB à Presidência. A redução gradual da alíquota, tão gradual que não venha a afetar os interesses de longo prazo da oposição, mas que sinalize redução da carga tributária, seria uma boa saída. Mas, para além dos interesses imediatistas de aprovação da CPMF e da Desvinculação de recursos Orçamentários (DRU), ou mesmo da cassação do senador Renan, o que está em jogo hoje é a formação de uma base política não apenas para as eleições municipais, mas especialmente para a eleição de 2010. O presidente Lula está jogando seu prestígio popular para atrair políticos da oposição para a base governamental, prometendo ajuda na campanha. Em troca do futuro, ele pede apoio no presente, mas, embora o bom momento da economia encubra esse fato da vida, depois das eleições municipais seu poder de fogo estará naturalmente reduzido. Ao contrário de 2004, quando havia a expectativa de reeleição de Lula, e a base municipal significava forte apoio eleitoral em 2006, o desenho político que sair das urnas ano que vem nada ou muito pouco significará para 2010, pois é quase ingênuo imaginar que a base governista se manterá unida na corrida presidencial. Não é que o presidente Lula seja um ingênuo político, muito ao contrário. Pensando politicamente com muito mais sagacidade do que o PT, sabe que somente a união da base poderá apresentar uma candidatura presidencial com consistência para enfrentar a oposição, que tem dois candidatos com lideranças muito fortes nos dois principais estados do país - os governadores de São Paulo, José Serra, e o de Minas, Aécio Neves. Se não houver um racha político, qualquer um dos dois terá condições para atrair muitos apoios entre os partidos que hoje compõem a base parlamentar do governo Lula, que são os mesmo que já compuseram a base do governo de Fernando Henrique e debandaram para Lula em 2002. O que Lula está tentando armar é o único jogo capaz de manter no poder o grupo político que o apóia sem sua figura carismática servindo de cimento a interesses tão distintos. Mas é exatamente porque ele não tem perspectiva de poder futuro é que é quase impossível manter unida essa turma, que vive dessa expectativa. Além de brigar entre suas próprias facções, os petistas se indispõem com os aliados na distribuição de cargos no governo, o que torna quase impossível um acordo suprapartidário para que o candidato mais bem colocado na ocasião seja o cabeça de chapa, mesmo que seja do PMDB ou do PSB. Além do mais, mesmo sem interferência de nenhum problema externo, dificilmente o PMDB terá condições de ter candidato próprio, e tudo indica que partirá desunido para a campanha presidencial de 2010. Ao contrário do PT, que com quase toda a certeza, e contra o que gostaria o presidente Lula, terá seu próprio candidato, mesmo para perder a eleição. A hipótese de um candidato petista chegar ao segundo turno contra um tucano e ter o apoio da base aliada é muito mais difícil de se realizar do que o contrário, isto é, um candidato tucano ter o apoio multipartidário contra o PT. E aí é que pode entrar a discussão sobre a possibilidade de o presidente Lula disputar um terceiro mandato. Assim que ficar mais claro que são pequenas as chances de o PT eleger o sucessor de Lula, será do próprio partido a iniciativa de estimular essa discussão, para não perder o controle da máquina estatal. |
Entrevista:O Estado inteligente
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