RASÍLIA - É exagero dizer que Lula traiu os palanques. A ocupação sindicalista da máquina federal e a reinclusão dos pobres na propaganda e nas medidas de governo indicam o oposto. Mas, aqui e ali, o presidente encampa discursos e idéias que em outros tempos levariam a militância a rasgar os pulsos.
Por exemplo, quando afirmou que greve no serviço público é férias e mandou cortar o ponto -rompante compreensível, dado que as paralisações punem a baixa renda.
Ou quando apontou Henrique Meirelles e a política econômica de juros e superávits pouco modestos como os fiadores da reeleição.
Pois acaba de partir outro tirambaço "on the record" contra o palavrório dos idos do Lulalá. "É importante uma relação íntima entre setor público e setor privado. Você precisa do capitalista, (...) fortalecer grandes empresas", falou ao "Valor" a ministra Dilma Rousseff.
Usar o capital privado como ferramenta de governo não é invenção do ano. O namoro com Gerdau, Agnelli & S.A. já tinha engatado no escurinho do primeiro mandato. Há, também, risco de o Estado ficar à mercê do interesse dos sócios. Não é difícil, por fim, listar argumentos de que a gestão da Casa Civil é menos dinâmica do que parece. Isso tudo, porém, não desqualifica a decisão de sair do armário.
O convite aos grandes "players" faz sentido nessa hora de enfrentar gargalos (menos interlocutores significa mais agilidade), resulta de uma leitura madura do contexto global (vide o protagonismo da Telefónica na vitalização econômica da Espanha) e, de quebra, dissolve um tabu das esquerdas (quem lembra os ataques ao candidato Antônio Ermírio de Moraes em 1986?).
Diz-se na política que, na negociação, os lados sacrificam logo as convicções mais agudas. Daí que as coisas costumem rumar a um centro pantanoso, a um zero imobilista. Às vezes, porém, elas desenham novos consensos -eventualmente, como agora, bons sensos.
Entrevista:O Estado inteligente
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