Entrevista:O Estado inteligente

sábado, setembro 22, 2007

Celso Ming

É dinheiro chegando


O forte dos analistas econômicos nunca foi acertar suas previsões. Mas, nas projeções sobre o Investimento Estrangeiro Direto (IED) deste ano, revelaram-se um fracasso retumbante.

Em agosto, o Banco Central avançara que o IED deste ano seria de US$ 25 bilhões. Um pouco mais otimista, o mercado, auscultado pelo Banco Central na pesquisa semanal Focus, apostava num IED de US$ 28 bilhões. Ontem as estatísticas do Banco Central mostraram que essas projeções foram desmoralizadas. Em 12 meses (até agosto), apresentaram um IED recorde de US$ 35,1 bilhões e, nos 8 primeiros meses do ano, de US$ 26,5 bilhões. Esses números obrigaram o Banco Central a corrigir suas estimativas . Para este ano, espera agora US$ 32 bilhões, admitindo, assim, um erro de 28%. Segunda-feira saberemos se o mercado terá feito o mesmo.

Até agora, poucos comentaristas haviam apontado o IED como um dos fatores importantes na trajetória de valorização do real (queda da cotação do dólar). Ou a atribuíam à exuberância das exportações ou aos juros altos, que estariam atraindo capitais especulativos. Mas a entrada de investimentos estrangeiros está chegando perto do superávit comercial (exportações menos importações), que, para este ano, está projetado pelo Banco Central em US$ 40 bilhões e pelo mercado, em US$ 42 bilhões (Pesquisa Focus). Já não dá para menosprezar o impacto dessa entrada de capitais, que nada tem a ver com especulação ou com arbitragem com juros.

Sem ter de espremer demais os miolos, dá para elencar alguns fatores que deverão continuar a trazer capitais de investimento no curto prazo. O primeiro é a já conhecida abundância de capitais pelo mundo, agora reforçada pela derrubada dos juros básicos nos Estados Unidos. É uma dinheirama ávida por aplicações de risco num universo de relativa escassez de oportunidades. O Brasil está sendo percebido como uma nova potência econômica com baixa vulnerabilidade a crises, como se viu ao longo das turbulências que se seguiram ao estouro da bolha do crédito imobiliário de alto risco (subprime).

A proximidade da promoção do País na tabela de classificação de risco para grau de investimento contribuirá não só para lançar o holofote sobre a economia, como também para estimular novas aplicações de risco por aqui. Para isso deverá também contribuir a percepção de que o Brasil dobrou o crescimento do seu PIB, da faixa de 2% (ao longo de 15 anos até 2005) para a de 4,5% ou 5,0%. E há a força dos biocombustíveis. Como os preços do petróleo teimam em ficar acima dos US$ 75 por barril, a idéia de que o etanol brasileiro é o sucedâneo para a gasolina deverá intensificar os investimentos estrangeiros na área, como já vem fazendo o financista George Soros e já anunciaram que farão os criadores do Google, Larry Page e Sergey Brin.

Enfim, os sempre preocupados com o excesso da chegada de capitais não demorarão a pedir que o governo crie um controle de investimentos estrangeiros.

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