Entrevista:O Estado inteligente

sábado, setembro 22, 2007

O caixa dois de Azeredo e Walfrido


O passado os condena

O ministro Mares Guia deve ser denunciado ao Supremo
por operar o caixa dois dos tucanos mineiros em 1998


Alexandre Oltramari e José Edward

Gustavo Miranda/Ag.O Globo
Mares Guia: a Polícia Federal tem indícios de que ele chefiava o financiamento ilegal da campanha de Eduardo Azeredo


O ministro das Relações Institucionais, Walfrido Mares Guia, é uma das estrelas do governo. Com grande capacidade de diálogo e a confiança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, organizou a maioria do governo no Congresso e, na semana passada, mostrou seu valor ao Planalto ao conseguir aprovar a CPMF na Câmara. Apesar de vitórias como essa, o futuro do ministro depende do procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza. Nas próximas semanas, Souza denunciará ao Supremo Tribunal Federal os envolvidos nas operações de caixa dois realizadas pelo PSDB mineiro em 1998, para abastecer a campanha de reeleição do então governador do estado, Eduardo Azeredo. Oficialmente, o procurador se nega a informar quem será incluído no rol dos acusados, mas confidenciou a seus assessores que Mares Guia estará entre eles, juntamente com Azeredo. O ministro, por sua vez, disse que deixará o governo se for denunciado. O que se conclui dessas duas afirmações é que a permanência de Mares Guia no Planalto é apenas uma questão de tempo.

O calvário de Mares Guia começou quando foi divulgada parte do inquérito da Polícia Federal que investigou o esquema de financiamento ilegal da campanha dos tucanos de Minas Gerais em 1998. Naquele ano, o ministro, que era vice-governador de Azeredo, concorria a um mandato de deputado federal. Ele foi substituído na chapa da reeleição de Azeredo pelo empresário Clésio Andrade, então sócio do lobista carequinha Marcos Valério. Andrade introduziu Marcos Valério no tucanato mineiro para operar o caixa dois da eleição. No inquérito, o ministro Mares Guia aparece na coordenação do esquema. Para provar sua tese, a polícia apresentou três folhas manuscritas nas quais o ministro lista as despesas da campanha. Os gastos descritos em apenas uma das folhas somam 12 milhões de reais. Azeredo, no entanto, só declarou 8,6 milhões de reais à Justiça Eleitoral. A diferença foi coberta com recursos de caixa dois. A investigação também revelou que os serviços prestados pelo marqueteiro Duda Mendonça a Azeredo custaram 4,5 milhões de reais. Na prestação oficial de contas, Azeredo informa que só pagou 700.000 reais a Duda. Em depoimento à polícia, o tesoureiro da campanha, Cláudio Mourão, declarou que pagou a diferença, com recursos do caixa dois, por ordem de Mares Guia.

A Polícia Federal conseguiu rastrear a origem de parte dos recursos gastos por Azeredo. Descobriu que um bolo significativo saiu dos cofres públicos. As empresas estatais de Minas, como a companhia energética e o banco estadual, patrocinaram eventos esportivos promovidos pelas agências de publicidade SMPB e DNA, ambas de Marcos Valério. Os contratos foram superfaturados e o dinheiro que sobrou deles alimentou o caixa dois. Outra parte dos recursos do tucanoduto veio de empréstimos bancários contraídos pela SMPB e pela DNA – pagos, é claro, com recursos de empreiteiras e fornecedores contratados pelo governo mineiro.

Roberto Jayme/AE
Azeredo: hoje senador, ele se beneficiou do esquema coordenado por Mares Guia

O tucanoduto também teria beneficiado aliados de Azeredo que estavam em campanha naquele ano. Uma lista cuja autoria é atribuída ao tesoureiro Cláudio Mourão arrola 159 políticos. A PF coletou provas contra 82 deles. Não há nenhum indício concreto de que os demais 77 tenham sido beneficiados. O procurador Antonio Fernando Souza está debruçado sobre os documentos e depoimentos colhidos pela Polícia Federal para finalizar sua denúncia. Ele estuda em que tipo de crime pode enquadrar cada um dos operadores e beneficiários do esquema. O ministro Mares Guia pediu-lhe um prazo de duas semanas para apresentar uma nova defesa. Sua permanência no ministério torna-se mesmo inviável se ele não provar sua inocência ao procurador e acabar denunciado ao Supremo Tribunal Federal.

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