O mundo dá sinais de que a paciência com o
Irã está chegando ao fim. Afinal, o que os
aiatolás querem com o seu programa nuclear?
Duda Teixeira
Reuters |
Ahmadinejad na ONU, na semana passada: discussão nuclear é "caso encerrado" |
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Informações da Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea) sugerem que o Irã está tendo problemas com a sua tecnologia de enriquecer urânio. O país, se for assim, só poderia fabricar uma bomba atômica a partir de 2010, quiçá em 2015. A conclusão não é suficiente para causar alívio. A mera hipótese de os aiatolás xiitas um dia terem o domínio dessa tecnologia bélica coloca o mundo em suspenso. Em princípio, a bomba nuclear iraniana é uma ameaça para todos os países do Oriente Médio – mas, evidentemente, alguns estão mais preocupados que outros. Um tema freqüente dos discursos do presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad é o projeto de riscar Israel do mapa. O Irã também provoca os Estados Unidos fornecendo armas e explosivos para ser usados contra as tropas americanas no Iraque. Por fim, confronta as Nações Unidas, que querem que Teerã permita a inspeção internacional em suas instalações nucleares e suspenda o enriquecimento de urânio, material que pode ser usado numa arma nuclear.
Neste mês, vários foram os sinais de que a paciência ocidental para com o Irã está no fim. A possibilidade de uma ação militar torna-se mais concreta. O ministro das relações exteriores da França, Bernard Kouchner, foi um dos mais enfáticos. "Temos de nos preparar para o pior. E o pior é a guerra", disse ele. Rudolph Giuliani, o candidato do partido republicano com mais chance de enfrentar Hillary Clinton nas eleições americanas, defendeu um ataque preventivo para evitar que o país se torne uma potência nuclear. No Irã, comitês de crise organizados pelo governo já traçam planos de emergência para uma guerra. Rádios e estações de televisão foram orientadas a gravar programas antecipadamente, de forma que tenham o que transmitir caso seus estúdios sejam destruídos ou seus empregados não consigam chegar ao trabalho.
Israel é a nação que mais tem motivos para temer a posse de armas nucleares pelos aiatolás. Não bastassem as ameaças verbais de seus líderes, o Irã dispõe de mísseis capazes de alcançar Israel. Há cinco anos, o ex-presidente iraniano Hashemi Rafsanjani afirmou que bastaria uma única bomba nuclear para liquidar o estado judeu. Ele tem razão. O temor de um ataque arrasador e a dificuldade de os Estados Unidos ingressarem em mais uma empreitada militar antes de resolver a encrenca no Iraque tornam Israel o mais forte candidato a empreender um ataque preventivo às instalações nucleares iranianas. Nesse cenário, os Estados Unidos poderiam entrar mais tarde com bombardeiros B-2 Spirit, que transportam bombas de alto poder destrutivo e não são detectados pelo radar. Poderiam ser usados para persuadir os aiatolás a limitar o alcance de suas represálias a um ataque israelense.
O Irã argumenta que seu programa nuclear tem fins exclusivamente energéticos. O país também é um dos signatários do Tratado de Não-Proliferação Nuclear, o que, a princípio, confirmaria suas intenções pacíficas. O interesse premente do quarto maior produtor de petróleo do mundo no enriquecimento de urânio, no entanto, é algo mais difícil de ser compreendido. Também se sabe que os países candidatos a se tornar potências nucleares não anunciaram suas ambições bélicas antecipadamente. Desde que, em 1968, as cinco potências nucleares da época, Estados Unidos, União Soviética (Rússia), China, Inglaterra e França, assinaram com dezenas de países o Tratado de Não-Proliferação Nuclear, outras quatro nações passaram a deter armas atômicas. Nenhuma pediu licença para fazer isso. Uma delas é exatamente Israel, que até hoje não admite, mas tampouco desmente, que tenha bombas nucleares. Índia e Paquistão, dois inimigos históricos, também surpreenderam o mundo com seus primeiros testes atômicos. O último foi a Coréia do Norte, que há um ano explodiu uma bomba de pequenas dimensões. Em fevereiro, os norte-coreanos concordaram em retroceder nos seus planos em troca de ajuda econômica. Por que o armamento atômico é aceitável em alguns países, mas não no Irã? A resposta está nas características fanáticas do estado teocrático xiita. "Esses quatro países estão hoje com boas relações com os Estados Unidos e não são considerados uma ameaça", disse a VEJA o cientista político sul-africano Jean du Preez, diretor do Instituto de Estudos Internacionais Monterey, na Califórnia. "O Irã, ao contrário, é a bola da vez."
A partir do momento em que um país consegue enriquecer o urânio de forma controlada, são necessários entre três e quatro anos para que possa ter uma bomba nuclear. O Irã afirma que já cumpriu satisfatoriamente a primeira etapa, um feito desacreditado por inspetores. A posse de armas nucleares pelo Irã, caso venha a ocorrer, mudaria brutalmente o equilíbrio de poder no Oriente Médio. Não apenas Israel correria perigo. O poder militar crescente dos aiatolás espalha o pânico entre seus vizinhos árabes de maioria sunita, a vertente majoritária do Islã. Em setembro, o egípcio Mohamed El-Baradei, diretor da Aiea, deu um prazo de mais três meses para que o Irã finalmente elucide a parte secreta de seu programa nuclear. Em um discurso proferido na Assembléia-Geral da ONU, em Nova York, na semana passada, Ahmadinejad deu de ombros e considerou a discussão um "caso encerrado". Por enquanto, governos europeus e o americano planejaram sanções econômicas mais firmes para pressionar os iranianos. O Congresso americano aprovou uma punição para empresas estrangeiras com filiais nos Estados Unidos que decidam investir no Irã. O governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger, anunciou uma lei que proíbe investimentos de empresas do seu estado no país dos aiatolás. Na sexta-feira, dia 28, os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU e a Alemanha declararam que vão esperar até novembro para decidir se adotam sanções mais severas. Ahmadinejad terá, assim, mais algum tempo para convencer todo o mundo de que não alimenta más intenções. Ou, então, para preparar uma surpresa.
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