Ambiciosamente irrelevante
Convenham: o discurso de Lula sobre os biocombustíveis já começa a rodar em falso. Em breve, ninguém mais vai dar bola pra ele, como já começa a acontecer. Sim, agora é preciso fazer o etanol ganhar escala, atrair investimentos, incentivar a cadeia de produção etc. E a tudo isso o mundo está obviamente atento, porque se trata também de negócios. Tendo o privilégio de fazer o discurso de abertura da Assembléia Geral das Nações Unidas, lá vai ele com etanol, crítica aos ricos, fim dos subsídios agrícolas, superação da pobreza... É claro que isso tudo tem importância — importância permanente. E, por isso mesmo, a repetição do óbvio se transforma num clichê do pobre reclamão. É aquele o ambiente? Lula achou que discursava na OMC?
O Itamaraty responde por essa escolha — no caso, errada. O discurso de George W. Bush em favor da democracia e com críticas severas a Cuba, como sempre, atrai a atenção. Ele é quem é. O fato de não ter citado o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, foi entendido, e era, como uma particular forma de referência. No mesmo palco, estiveram os presidentes da França, Nicolas Sarkozy, e da Alemanha, Angela Merkel, ambos com críticas diretas e severas a Teerã. O francês mandou o recado explícito que o americano evitou.
Classificou a possibilidade de o Irã ter uma bomba nuclear de "um risco inaceitável para a estabilidade da região e do mundo". E sentenciou: “Fraqueza e omissão não levam à paz. Elas levam à guerra”. Sarkozy, quem diria?, citava indiretamente Wiston Churchill referindo-se aos governos britânico e francês quando assinaram com Hitler o vergonhoso Tratado de Munique: “Entre a desonra e a guerra, eles escolheram a desonra. E terão a guerra”. Merkel também defendeu mais sanções ao Irã. É bom lembrar que o ministro das Relações Exteriores da França, Bernard Kouchner, chegou a afirmar que o mundo deve se preparar para uma guerra se o Irã decidir, de fato, ter a bomba.
Ora, o que quero evidenciar com esses parágrafos? Que o discurso de Lula está fora do lugar e um tanto velho. Se o Brasil quer ser uma nação relevante; se aspira à condição de país ouvido no cenário internacional; se quer mesmo ter voz ativa, precisa parar com essa ética de sacoleiro. Há um mito — e é mito mesmo! — de que Lula viaja e traz negócios na bagagem; de que, indo à ONU e falando sobre o etanol, o mundo inteiro pode se convencer de que ele está certo. Claro, é desejável que o presidente divulgue as melhores qualidades de seu país e defenda os seus interesses. Mas há lugar e hora.
Pior do que isso: saiu dali e deu uma entrevista defendendo o direito de o Irã ter um programa nuclear e se opondo a sanções, escolha que hoje une EUA e União Européia. Ora, desde quando está em risco ou em debate o direito de os iranianos desenvolverem tecnologia nuclear para fins pacíficos? O problema está nas muitas evidências de que está se preparando para ter a bomba. E isso, com efeito, como diz Sarkozy, pode empurrar o mundo para uma guerra. Vá lá que Lula possa até achar que isso é “problema de rico”; pragmático, poderia dizer que o nosso negócio é economia. Mas por que, então, tendo silenciado a respeito na ONU, não se calou também depois?
O pacífico
O pacifismo do Irã se viu na fala cheia de provocações de Ahmadinejad, para quem a questão nuclear já está superada. Ele permite a inspeção da ONU — desde que não a serviço dos EUA. Sei... Isso quer dizer, obviamente, que só será inspecionado aquilo que o Conselho da Revolução decidir que pode. Ah, sim: o presidente do Irã também exortou o mundo a aderir ao “único Deus”.
Lula, assim, não só ignorou a questão central como, em entrevista posterior, defendeu o Irã e ainda o comparou ao Brasil, que tem seu programa nuclear. E olhem que ainda não ameaçamos bombardear Buenos Aires... A assembléia da ONU é fórum político. O Brasil tem feito intervenções tão ambiciosas (mudar a geografia econômica mundial, por exemplo) que, célere, vai se reconciliar, feliz e cheio de razão, com a irrelevância.
O Itamaraty responde por essa escolha — no caso, errada. O discurso de George W. Bush em favor da democracia e com críticas severas a Cuba, como sempre, atrai a atenção. Ele é quem é. O fato de não ter citado o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, foi entendido, e era, como uma particular forma de referência. No mesmo palco, estiveram os presidentes da França, Nicolas Sarkozy, e da Alemanha, Angela Merkel, ambos com críticas diretas e severas a Teerã. O francês mandou o recado explícito que o americano evitou.
Classificou a possibilidade de o Irã ter uma bomba nuclear de "um risco inaceitável para a estabilidade da região e do mundo". E sentenciou: “Fraqueza e omissão não levam à paz. Elas levam à guerra”. Sarkozy, quem diria?, citava indiretamente Wiston Churchill referindo-se aos governos britânico e francês quando assinaram com Hitler o vergonhoso Tratado de Munique: “Entre a desonra e a guerra, eles escolheram a desonra. E terão a guerra”. Merkel também defendeu mais sanções ao Irã. É bom lembrar que o ministro das Relações Exteriores da França, Bernard Kouchner, chegou a afirmar que o mundo deve se preparar para uma guerra se o Irã decidir, de fato, ter a bomba.
Ora, o que quero evidenciar com esses parágrafos? Que o discurso de Lula está fora do lugar e um tanto velho. Se o Brasil quer ser uma nação relevante; se aspira à condição de país ouvido no cenário internacional; se quer mesmo ter voz ativa, precisa parar com essa ética de sacoleiro. Há um mito — e é mito mesmo! — de que Lula viaja e traz negócios na bagagem; de que, indo à ONU e falando sobre o etanol, o mundo inteiro pode se convencer de que ele está certo. Claro, é desejável que o presidente divulgue as melhores qualidades de seu país e defenda os seus interesses. Mas há lugar e hora.
Pior do que isso: saiu dali e deu uma entrevista defendendo o direito de o Irã ter um programa nuclear e se opondo a sanções, escolha que hoje une EUA e União Européia. Ora, desde quando está em risco ou em debate o direito de os iranianos desenvolverem tecnologia nuclear para fins pacíficos? O problema está nas muitas evidências de que está se preparando para ter a bomba. E isso, com efeito, como diz Sarkozy, pode empurrar o mundo para uma guerra. Vá lá que Lula possa até achar que isso é “problema de rico”; pragmático, poderia dizer que o nosso negócio é economia. Mas por que, então, tendo silenciado a respeito na ONU, não se calou também depois?
O pacífico
O pacifismo do Irã se viu na fala cheia de provocações de Ahmadinejad, para quem a questão nuclear já está superada. Ele permite a inspeção da ONU — desde que não a serviço dos EUA. Sei... Isso quer dizer, obviamente, que só será inspecionado aquilo que o Conselho da Revolução decidir que pode. Ah, sim: o presidente do Irã também exortou o mundo a aderir ao “único Deus”.
Lula, assim, não só ignorou a questão central como, em entrevista posterior, defendeu o Irã e ainda o comparou ao Brasil, que tem seu programa nuclear. E olhem que ainda não ameaçamos bombardear Buenos Aires... A assembléia da ONU é fórum político. O Brasil tem feito intervenções tão ambiciosas (mudar a geografia econômica mundial, por exemplo) que, célere, vai se reconciliar, feliz e cheio de razão, com a irrelevância.