Entrevista:O Estado inteligente

sábado, setembro 22, 2007

CLÓVIS ROSSI

A miséria do conformismo
SÃO PAULO -
Dia 17 de outubro é a Jornada Mundial de Repúdio à Miséria. Em Paris, está programada uma grande manifestação nos jardins do Trocadéro. Você já ouviu falar de manifestação similar no Brasil? Será que a miséria na França é maior? Ou será que o conformismo no Brasil é muito maior? Suspeito que o conformismo esteja por trás da aceitação passiva de uma lenda (mais uma, aliás), a da queda da desigualdade.
Baseia-se na Pnad (Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios, feita pelo IBGE). A pesquisa parece séria, o IBGE também, mas os pesquisados mentem (ou omitem dados), conforme já demonstraram pesquisadores do Ipea (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas, tão respeitado e tão oficial quanto o IBGE).
Resumo a lenda: os pobres melhoraram de fato sua renda, com as diferentes bolsas oficiais, a partir do governo FHC e mais ainda no governo Lula. Declaram ao IBGE o que de fato ganham. Já quem tem aplicação financeira omite essa parte de seus ganhos.
Pesquisadores do Ipea chegaram a colocar na altura de 90% o que chamam de "subdeclaração" dos ganhos com juros.
O que diminuiu, de fato, foi a desigualdade nos salários, mas não na renda. Escreve, por exemplo, Marcio Pochmann, hoje presidente do Ipea:
"A parte da renda do conjunto dos verdadeiramente ricos afasta-se cada vez mais da condição do trabalho para aliar-se a outras modalidades de renda, como aquelas provenientes da posse da propriedade (terra, ações, títulos financeiros, entre outras)".
Conseqüência: "Em 2005, a participação do rendimento do trabalho na renda nacional foi de 39,1%, enquanto em 1980 era de 50%".
A Pnad só capta a renda do trabalho -o que dá margem à lenda da redução da desigualdade e ao conseqüente conformismo.

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