PANORAMA ECONÔMICO |
O Globo |
18/9/2007 |
O ponto mais curioso do momento atual é que governo e oposição têm sido sócios nos avanços brasileiros - e nos problemas. A união fica mais clara nos dados da Pnad. A desigualdade cai desde o Plano Real. O mercado de consumo se amplia e os lares ficam mais bem equipados. Até nos erros, os governos de PSDB e PT se parecem: ambos aumentaram os gastos públicos mais do que o crescimento do PIB. O PT é prisioneiro da síndrome do "nunca antes". Por isso não tolera os abundantes fatos que mostram uma continuidade entre os dois governos, que faz o Brasil ser hoje uma sociedade com mais consumidores, menos desigualdade, mais escolarização. Numa entrevista recente que fiz com Guido Mantega, o ministro da Fazenda defendeu a tese de que está se criando no Brasil o "mercado de consumo de massas", que na opinião dele é obra exclusiva do atual governo. Citou o aumento do crédito, o bom momento da construção civil e as vendas de computadores como provas de que é do governo Lula a obra de criação do mercado de consumo de massas. Haveria ampliação do crédito sem o Plano Real ter dado certo? Poderia haver bom momento da construção civil se os juros não tivessem caído? E os juros cairiam se não fosse mantido tudo aquilo que estava aí quando o governo Lula começou: metas de inflação, câmbio flutuante, autonomia do Banco Central, Lei de Responsabilidade Fiscal, superávit primário? Recordar é viver: Lula, o PT e seus economistas foram contra o Plano Real, queriam acabar com o Copom e baixar os juros bruscamente, entraram no Supremo contra a Lei de Responsabilidade Fiscal, diziam que o superávit primário era para dar dinheiro aos banqueiros, fizeram um plebiscito para não pagar a dívida externa e interna e foram ferozes inimigos da abertura comercial. Lula, PT e seus economistas defenderam, durante várias campanhas, que a inflação se controlava com medidas toscas, como câmaras setoriais que negociariam controle de preços e salários. Contra a turbulência externa prescreviam controle cambial. Ainda hoje, o que o PT reunido tem a oferecer ao país é a idéia passadista de reestatizar a Vale do Rio Doce. O fato mais auspicioso da economia brasileira foi a continuidade. Quando Lula foi eleito e fez o oposto do que durante 20 anos disse que faria quando chegasse ao poder, o país superou um fator de risco que sempre o ameaçara. Assim, o país pôde continuar a colher o que plantara desde o começo dos anos 90, como a privatização, o fim dos bancos estaduais, a abertura da economia, a modernização das empresas, a estabilização, a abertura. Os avanços sociais se deram em cima da estabilização da economia. Sem uma moeda estável não há recuperação de renda que avance. Sem uma moeda estável e uma economia aberta, não haveria a competição entre as empresas que levou à queda dos preços de bens de consumo duráveis. Foi essa queda de preços que tornou acessíveis os bens eletrônicos às famílias até de renda mais baixa. Foi a privatização da Telebrás que fez o salto dos telefones nas casas e nas mãos dos brasileiros. Privatização que Lula combateu até na última campanha eleitoral. Hoje existem 106 milhões de celulares no Brasil. Antes da privatização, dois milhões. O Brasil teria conseguido acompanhar as mudanças vertiginosas nessa área sem a privatização? Hoje existem 74,5% de domicílios com telefone no país. Na época da estatal eram apenas 19%. O governo FH foi a era do telefone, o governo Lula está sendo a dos computadores. Parte do sucesso é a manutenção da moeda forte, e parte é uma redução setorial de impostos aprovada no governo Lula. O resultado é que o mercado de notebooks e desktops no Brasil saiu de três milhões para dez milhões de unidades por ano na era Lula. O governo Lula tem vários méritos, e eles estão expostos na Pnad, para alegria de todos. Ele só não tem o mérito inaugural que pensa ter em tudo o que está dando certo. Por outro lado, os governos FH e Lula erraram igual em algumas coisas, como o péssimo desempenho na área do saneamento. A repórter Flávia Barbosa fez uma observação interessante na edição de sábado: o governo FH foi o avanço na educação, o governo Lula, na renda. De fato, a renda, que deu um salto após a queda da inflação, depois caiu por anos seguidos e está se recuperando agora. E o avanço de educação no governo FH é incontestável. Só um dado: o analfabetismo de 10 a 14 anos era de 12,4% em 92 e, ao final da era FH, era de 3,9%. Agora é de 2,9%. Foi exatamente na educação o pior erro de Lula. O erro foi não ter continuado o trabalho que estava sendo feito. Durante quatro anos o governo Lula tentou inventar um novo caminho, mudar indicadores e prioridades na educação, área onde, nas palavras de Armínio Fraga, o "Brasil não pode perder 15 minutos". Por causa disso colheu dois números horríveis na Pnad do ano passado: aumento do trabalho infantil, aumento da evasão escolar na adolescência. Mesmo assim, há alguns fatos a comemorar, como a entrada de mais negros e pobres na universidade através do Prouni e das políticas de inclusão social e racial. O Brasil tem tanto a fazer que é até ridículo haver disputa de paternidade dos avanços. O país melhora em relação a ele mesmo, mas está longe do que deveria estar nessa altura dos acontecimentos. Uma lição esta Pnad traz: a continuidade das políticas é a mais eficiente das escolhas. |
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
terça-feira, setembro 18, 2007
Míriam Leitão - A quatro mãos
Arquivo do blog
-
▼
2007
(5161)
-
▼
setembro
(429)
- Miriam Leitão Usos e costumes
- Merval Pereira - Bolsa 2.0
- DANUZA LEÃO A tal da carência
- João Ubaldo Ribeiro O golpe já começou (2)
- DANIEL PISA
- Alberto Tamer
- Mailson da Nóbrega
- A Petrobrás invadida Suely Caldas
- Celso Ming
- DORA KRAMER O Judiciário e a cooptação
- ELIANE CANTANHÊDE Um ano depois
- No caso de MG, empréstimos foram pagos; no esquema...
- Gaspari erra feio na conta e na cota
- VEJA Carta ao leitor
- VEJA : Alain Ducasse
- MILLÔR
- André Petry
- Radar
- Diogo Mainardi McCarthy estava certo
- Roberto Pompeu de Toledo
- Lula na ONU: um discurso com conteúdo
- Entidade ligada a Ideli Salvatti é investigada
- Renan manda e o PMDB derrota o governo
- Febraban divulga tabela de tarifas bancárias
- MST O avanço dos assentados nas universidades p...
- Irã O perigo de uma guerra preventiva
- Mianmar A revolta dos monges
- Che Guevara, quarenta anos de um mito
- Sputnik: cinqüenta anos de exploração espacial
- As piores escolas de direito
- O avanço das algas tóxicas
- As fraudes de um cientista holandês
- A reação positiva de um doente terminal
- Empresas limpam o nome de pessoas atacadas na rede
- O show de Marta no Mundial de futebol feminino
- Desonrada, de Mukhtar Mai
- Dois épicos editados em português
- O seriado The Tudors no canal People+Arts
- Um sopro de novidade para o jazz
- CLÓVIS ROSSI
- MELCHIADES FILHO O capital
- RUY CASTRO Lobbies que venceram
- Miriam Leitão A recuperação
- Merval Pereira - Emancipação
- FERNANDO GABEIRA
- Celso Ming
- DORA KRAMER Cada um por si
- Entrevista de Diego Mainardi a Diego Casagrande
- Clipping de 28 de stembro
- Clóvis Rossi - Uma questão de "consciência"
- Eliane Cantanhede - Güenta!
- Merval Pereira - Aparências
- Míriam Leitão - Parada estratégica
- Somos das elites, sim
- Clipping de 27 de setembro
- Míriam Leitão - Nos tempos do bagre
- Merval Pereira - Tragicomédi...
- Eliane Cantanhede - Peixes e abobrinhas
- Dora Kramer - Relações comerciais
- Clóvis Rossi - Walfrido, quero o meu
- A culpa é de quem?-Gilberto de Mello Kujawski
- Governo federal piora nas contas fiscais
- Clipping de 26 de setembro
- Merval Pereira - A máquina petista
- Míriam Leitão - Lavoura arcaica
- Dora Kramer - Aonde vão os valentes?
- Celso Ming - A crise mudou de lado
- Clóvis Rossi - A banalização do absurdo
- Lula na ONU Ambiciosamente irrelevante
- Clipping de 25 de setembro
- Merval Pereira - Expectativa de poder
- Míriam Leitão - Moeda de troca
- Luiz Garcia - Crianças nas calçadas
- Clovis Rossi- As estatísticas e a vida real
- Eliane Cantanhede - Zuanazzi, duro na queda
- Celso Ming - Mergulho global
- Dora Kramer - No cravo e na ferradura
- Arnaldo Jabor - O futuro pode ser melhor do que pe...
- Jânio de Freitas - O acusador
- Rubens Barbosa, O MERCOSUL E A VENEZUELA
- Um terrorista nos EUA por Reinaldo Azevedo
- Serra sai em defesa de Aécio
- Clipping de 24 de setembro
- RUY CASTRO Outra cidade limpa
- Memória mutilada por Antonio Sepulveda
- A PRESSA É INIMIGA DA DEMOCRACIA
- Entrevista de ao Lula NYTIMES
- AUGUSTO NUNES SETE DIAS
- Miriam Leitão Crianças e velhos
- Merval Pereira - Oligarquias e poder
- FERREIRA GULLAR
- DANUZA LEÃO
- ELIANE CANTANHÊDE
- João Ubaldo Ribeiro
- DANIEL PISA
- Alberto Tamer Petróleo a US$ 80 estraga a festa
- Mailson da Nóbrega Quem estabilizou a economia
- Lula segue os passos de FHC
- Celso Ming
- DORA KRAMER Dando sorte ao azar
-
▼
setembro
(429)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA