Quando parte para o ataque aos meios de comunicação alegando "excessos", está mesmo é se revoltando contra a liberdade de expressão e o direito universal à informação. Estes, o PT detesta se não os controla ou os manipula em favor de suas conveniências.
Do presidente Luiz Inácio da Silva ao seu ex-ministro da Casa Civil processado por corrupção ativa e formação de quadrilha, passando por outros menos cotados, mas igualmente enquadrados em diversos artigos do Código Penal, todos se valem exatamente dos instrumentos que criticam para desviar o foco do motivo essencial de seus infortúnios.
Sem o noticiário que tanto os desconforta - no ex-ministro José Dirceu provoca "pânico" -, não teriam discurso. Aliás, nem teriam chegado ao poder, mas esta é uma outra história, a respeito da qual muito já se falou.
Os queixumes mais recentes se sustentaram justamente em reportagens publicadas pelos jornais. Exemplo, o relato da Folha de S.Paulo sobre a conversa telefônica em que o ministro do Supremo Tribunal Federal Ricardo Lewandowski dizia para o irmão que o tribunal recebera a denúncia contra os acusados no escândalo do mensalão porque cedera à pressão da imprensa, com a "faca no pescoço".
Dirceu exibia o exemplar a título de "prova" de que a imprensa caminha para tomar de assalto as mentes, os corações e as instituições do País.
Fazia isso em entrevista coletiva onde era tratado como autoridade, ato possível porque a imprensa em sua função noticiosa não briga com os fatos. Se julgasse e disputasse poder, como argumentam Dirceu e companhia, não estaria ali a ouvir e registrar desaforos de quem se apresenta como adversário e usa o inimigo no propósito de dar divulgação à sua tese.
O "reportariado" - jargão jornalístico para definir o coletivo de repórter - estava ali fazendo o seu trabalho e Dirceu o dele. Simples assim. O PT sabe muito bem como as coisas funcionam e delas jamais reclamou. Ao longo de sua existência, valeu-se dessa mecânica para se firmar como a oposição mais vigorosa que o País já teve da redemocratização para cá.
Ontem o partido iniciou seu 3º Congresso disposto a reservar boa parte dos debates para reclamar da imprensa. Desvia-se do ponto central de seus problemas, que são justamente aquelas pessoas que fizeram o que fizeram e continuam sendo afagadas pelo partido.
É do jogo, criticados sempre reclamam. Mas as coisas assumem uma feição um pouco mais grave quando o Estado, na pessoa do presidente da República, se dá ao desfrute de fazer avaliações sobre a amplitude do trabalho da imprensa sob a ótica da vontade de restringir.
Imprensa, na concepção desses autores, é boa quando a favor. Como, se for livre, necessariamente terá de se opor quando o uso do discernimento assim justificar, o que se observa nessas manifestações é o desejo de limitar a liberdade, enquadrá-la nos parâmetros tidos como adequados às melhores circunstâncias para o poder de plantão.
Mas, considerando o princípio de alternância do poder, natural seria que o PT pensasse no dia de amanhã e não se arriscasse a defender teses que podem contrariar seus interesses quando porventura volte a ser oposição.
A menos que não considere essa hipótese e esteja lá no fundo raciocinando sob a ótica passadista da ditadura do proletariado.
Maioria mineira
O governador de Minas Gerais, Aécio Neves, não vê sentido na questão aqui levantada dias atrás a respeito do "teste de maioria" a que seria submetido na votação de sua proposta à Assembléia Legislativa para a efetivação de 90 mil funcionários sem concurso na área de Educação.
Nessa votação, argumentava o texto que provocou a manifestação do governador, seria possível, por analogia, observar o que de fato se passara na recente derrubada de um veto do governador à concessão de foro privilegiado de Justiça para 2 mil autoridades mineiras: se Aécio perdera o controle sobre a base governista ou se havia apenas jogado para platéia ao vetar o foro e deixar que sua maioria derrubasse o veto.
Aécio Neves não aceita a ilação. "Acredito ter agido corretamente, no limite das minhas responsabilidades, o que foi inclusive reconhecido pelo Ministério Público Estadual." Segundo ele, não há termos de comparação entre as duas votações.
"Uma coisa é a lógica do apoio parlamentar a ações administrativas do governo; outra é a lógica que envolve uma votação que diz respeito à experiência individual, à convicção pessoal arraigada de cada parlamentar e, por que não, às próprias circunstâncias de cada um."
Ou seja, o governador de Minas continua de posse de maioria segura no Legislativo estadual, à exceção das ocasiões em que essa maioria se rebela, motivada por interesses específicos.