Entrevista:O Estado inteligente

sábado, outubro 07, 2006

Sem moral no Congresso

Republicanos tentam explicar por que

esconderam o assédio sexual feito por
um de seus deputados


Denise Dweck

Rick Mckay/NYT
O deputado Foley: mensagens obscenas a jovens

Os republicanos têm dois argumentos para convencer o eleitor americano a manter a maioria que o partido desfruta no Congresso. O primeiro, naturalmente, é o de que só a direita pode garantir a segurança dos Estados Unidos. Como se sabe, essa afirmação perdeu substância depois do fiasco da guerra no Iraque. O segundo argumento é o de que o partido representa um bastião em defesa dos valores morais e familiares dos americanos. Pois essa certeza também acaba de ser pulverizada por um choque de realidade – mais precisamente um escândalo sexual protagonizado por um importante parlamentar republicano chamado Mark Foley. Deputado pela Flórida por seis mandatos, Foley renunciou a sua cadeira depois que se tornou público que enviava e-mails indecentes para adolescentes que trabalham como estafetas no Congresso. A um mês das eleições parlamentares, o partido precisa explicar por que escondeu e protegeu o comportamento indevido do deputado.

Algumas das mensagens eletrônicas enviadas por Foley foram divulgadas pelo site do canal ABC há duas semanas. Em uma delas, o deputado perguntava se o contínuo ficava excitado com a troca de mensagens safadas pela internet. Em outra, convidava um rapaz para beber em sua casa. "Estou com saudade", escreveu. Não se sabe se Foley, de 52 anos, chegou a fazer sexo com os garotos. Na semana passada, o político fez três revelações por meio de um advogado: é alcoólatra, foi abusado sexualmente por um padre na adolescência e é gay. Dito isso, internou-se numa clínica de reabilitação de alcoólatras.

Jim Young/Reuters
Bush: maioria no Congresso ameaçada por fiasco no Iraque e pelo caso Foley


A hipocrisia de Foley está menos em ter escondido sua preferência sexual dos eleitores e mais por se apresentar na vida pública como um defensor dos direitos das crianças: ele era o presidente da Comissão para Crianças Desaparecidas e Exploradas da Câmara dos Deputados. Em julho, apresentou um projeto de lei para proteger menores de abusos sexuais pela internet. Na semana passada, o foco do escândalo desviou-se da conduta de Foley para a tentativa de seus colegas de partido de acobertar o caso. A pressão maior caiu sobre o presidente da Câmara, Dennis Hastert, que, segundo depoimento de assessores e outros deputados, foi informado do comportamento de Foley há pelo menos um ano e nada fez para investigá-lo. "Isso causa perplexidade porque foram os republicanos que transformaram os aspectos da vida privada, da família e do comportamento dos homens públicos em fatores fundamentais na política americana", disse a VEJA o cientista político Paul Apostolidis, do Whitman College, em Washington.

A história mostra que os eleitores americanos são mais tolerantes em relação a deslizes pessoais do que à mentira e à hipocrisia. Em 1998, o presidente Bill Clinton precisou expiar seus pecados em público não por ter cometido adultério dentro da Casa Branca, mas por ter mentido sobre o affair com uma estagiária. Não é a primeira vez que deputados se envolvem sexualmente com os jovens estafetas do Congresso. Em 1983, tornou-se público que dois deles haviam tido relações com estagiários, um deles um rapaz. Depois de comprovado que o sexo ocorreu com o consentimento dos jovens, nada impediu que um dos políticos fosse reeleito várias vezes. A diferença entre aquele episódio e o da semana passada é que o escândalo de 1983 foi investigado pelos parlamentares tão logo veio à tona.

A reação dos republicanos ao caso Foley foi de, primeiro, minimizar o problema e, em seguida, tentar convencer a opinião pública de que não sabiam de nada – exatamente o mesmo tipo de comportamento que roubou votos do presidente Lula nas eleições presidenciais. Bush tem motivos para temer o mesmo nos Estados Unidos. O Partido Democrata precisa tomar apenas quinze cadeiras dos republicanos, nas eleições de 7 de novembro, para ganhar maioria na Câmara dos Deputados.

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