O Estado de S. Paulo |
25/10/2006 |
Ontem o ministro Tarso Genro, em nome do presidente Lula, voltou a insistir na costura de uma "grande coalizão" para logo depois das eleições. Se não há idéia nem sequer sobre o núcleo em torno do qual construir uma coalizão, fica difícil saber se essa proposta faz sentido. Não há, por exemplo, clareza sobre o que deva ser um projeto de desenvolvimento do País, tema que, de resto, não despertou interesse no debate eleitoral. Os programas oficiais definem que o País precisa crescer, os candidatos prometem mais crescimento, mas param por aí. Não apresentam nenhuma proposta pormenorizada de construção ou de reforma da casa. O ex-ministro Luiz Carlos Bresser Pereira tem repetido que falta um programa nacional de desenvolvimento econômico. Mas ele mesmo não define o que seria um programa nacional para uma nação que aparentemente não se interessa nem por discutir o que é melhor para si própria. Provavelmente a questão mais séria é a de que estamos imersos num processo de globalização no qual se estreita a capacidade de qualquer Estado-nação (e não apenas do Brasil) de definir suas próprias políticas. Isso acontece pelo simples fato de que uma enorme parcela da economia mundial (para não dizer a mais importante) se comporta como se a economia fosse uma só e não subdividida em cerca de 200, que é em quantos pedaços supostamente soberanos se divide a geografia política mundial. Em princípio, não há, por exemplo, quem discorde que é preciso erradicar a miséria onde quer que ela exista. Mas, à medida que mais de 2 bilhões de asiáticos emergem da linha da pobreza, os assalariados (pobres ou remediados) do resto do mundo tendem a encarar o processo como ameaça. Nos Estados Unidos, por exemplo, uma penca de pensadores, economistas, sindicalistas, políticos e comentaristas econômicos se pergunta se o achatamento dos salários dos trabalhadores americanos, que só acontece porque os produtos asiáticos chegam substancialmente mais baratos às prateleiras dos supermercados, não exige a adoção de medidas protecionistas que barrem o atual processo mata-empregos e mata-negócios. E quantos economistas, políticos e líderes sindicais no Brasil não pensam mais ou menos da mesma forma? No fundo, argumentam que a redenção do pobre nacional tem prioridade sobre a de qualquer outro pobre do mundo, razão pela qual é preciso definir parâmetros nacionais de defesa contra a entrada de produtos, tanto de países ricos como de países pobres. Entendem que é preciso conquistar mercados externos, mas pregam o bloqueio do mercado interno aos demais. A estratégia hoje adotada tem por objetivo maior garantir a estabilidade da economia não como fator suficiente, mas como fator necessário para o crescimento. A divergência começa quando se pretende definir o que mais é necessário. Os desenvolvimentistas, embora minoritários, estão espalhados em todos os partidos e cerram fileiras tanto no governo como na oposição. Sustentam que o combate ao déficit público não é tão importante e que a política econômica deveria centralizar-se na derrubada incondicional dos juros e na desvalorização do real. Em campo oposto, embora também distribuídos tanto no governo como na oposição, estão os fiscalistas, que há 12 anos vêm dando sustentação à política econômica oficial. Para estes, não há problema mais grave a equacionar senão o do desequilíbrio das contas públicas que condiciona tudo e emperra o crescimento. Mas, mesmo entre estes, o consenso pára por aí. Na hora de definir o que significa isso na derrubada do custo Brasil, na solução da encalacrada previdenciária e na canalização de energias para educar a população e treiná-la para os postos a serem preenchidos numa economia moderna, não há o que arranque uma linha comum, que nem precisaria ser "nacional"; precisaria apenas garantir mais crescimento. Mesmo sem saber do que se trata, a idéia de uma coalizão parece ter certa aceitação na oposição. Ontem, no jornal Valor, o governador reeleito de Minas, Aécio Neves, passou o recado de que pretende construir pontes; não dinamitá-las. Não há o que permita antever o sucesso de uma proposta dessas. Se fracassar, também é difícil imaginar que o crescimento sustentado possa ser obtido com base numa política econômica do tipo "vamos levando". |
Entrevista:O Estado inteligente
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quarta-feira, outubro 25, 2006
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