Alguns dos mais tradicionais caciques políticos brasileiros estão tomando um susto nessas eleições de 2006. Mas não estão destruídos, nem de longe.
Político brasileiro é feito fênix: renasce das próprias cinzas. Quando a gente pensa que está acabado, ele se levanta lépido, se elege deputado e lá se vai para Brasília.
Quem poderia imaginar que Jader Barbalho fosse voltar a ser uma das figuras mais importantes da República?!
Não adianta torcer o nariz. O homem foi o deputado federal mais votado do PMDB em todo o Brasil. Pode aspirar a um ministério ou à presidência da Câmara, se o inevitável troca-troca entre a eleição e a posse resultar no PMDB como dono da maior bancada da Câmara.
Pois Jader decidiu dar uma demonstração de força e está contribuindo poderosamente para eleger a senadora petista Ana Júlia governadora do Pará, derrotando o tucano Amir Gabriel, que tenta a reeleição. Derrotar um governante no cargo não é pouca coisa. E Jader está fazendo questão de mostrar ao Palácio do Planalto que, no Pará, manda ele. Por enquanto.
Já na Bahia, o velho babalorixá sofreu séria derrota. Há tempos ACM já não controla a Prefeitura de Salvador. Mas perder o governo da Bahia, já no primeiro turno, e justo para o petista Jacques Wagner, que desafiou o governador Paulo Souto, é demais. Mas o carlismo perdeu também a disputa para o Senado, pois o ex-governador João Durval (PDT) derrotou o pefelista Rodolfo Tourinho, candidato de Antônio Carlos.
O carlismo ainda controla a Assembléia Legislativa, e o deputado ACM Neto foi o mais votado do estado. Mas é pouco, perto do que já foi o domínio de ACM sobre a política baiana. Sinal dos tempos? É possível.
O caso mais interessante talvez seja o de José Sarney. Depois que decidiu ser senador pelo Amapá, o velho político jamais fez campanha. Acha que não fica bem para um ex-presidente da República. Quando muito, fazia o favor de ir uma ou duas vezes ao Amapá durante a campanha – e era só.
Pois em 2006, Sarney tomou um calor de uma desafiante inteiramente novata na política. E quase que o inimaginável acontece: Sarney passou raspando, com 53% dos votos.
Mas é no Maranhão que o domínio coronelista dos Sarneys está sendo ameaçado. A família controla o estado desde a primeira eleição de José Sarney ao governo, em 1965, no início da ditadura militar.
Todos os mais importantes políticos maranhenses têm origem na frondosa árvore saneysista, mas a insistência do velho cacique em transformar o Maranhão numa capitania hereditária, transferindo o poder para os filhos – e filha, principalmente –, gerou sérias discordâncias entre seu grupo, e muitos políticos maranhenses foram abandonando o barco de Sarney e se passando para a oposição.
Roseana Sarney, ex-governadora duas vezes e atualmente senadora, está cortando um dobrado para se eleger pela terceira vez. Os institutos de pesquisa lhe davam 60% das intenções de voto – uma votação consagradora ainda no primeiro turno. Pois Roseana foi para o segundo turno, tendo obtido 47% dos votos, contra 34% de seu oponente Jackson Lago.
Roseana está em situação delicada. Alguns institutos de pesquisa já apontam Jackson Lago como vencedor – mas podem errar, como erraram redondamente no primeiro turno.
A senadora agarrou-se com o presidente Lula, desafiando seu partido, o PFL, como única forma de tentar garantir a eleição. Se vencer, deverá seu mandato a Lula.
A política brasileira ainda não chegou ao inverno de seus patriarcas, mas pelo menos dois dos mais notórios coronéis estão vivendo seu outono. Tempo de passar o bastão para as novas gerações. É da vida.