Seja quem for o vencedor das eleições de hoje terá de mudar radicalmente a política externa brasileira porque o eleitor receberá um governo quebrado. Sim, quebrado. Louva-se muito a drástica redução da dívida externa, mas em grande parte ela decorreu de um aumento brutal da dívida interna, que já passa de R$ 1 trilhão. E ainda faltam dois meses para acabar o ano. Só para que o leitor tenha uma idéia, o governo está pagando R$ 150 bilhões de juros, 8% do Produto Interno Bruto (PIB), para rolar uma dívida crescente, numa roda viva de juros sobre capital que se somam numa adição perversa.
Sei que o leitor que lê jornais, ouve o noticiário radiofônico e assiste à televisão vai argumentar que, afinal, o governo conseguiu aumentar o superávit primário. Aquele dinheiro que sobra no fundo do cofre público depois que arrecadou um mundão de dinheiro que veio dos quase 40% de imposto que pagamos. Tem dinheiro para pagar aqueles R$ 150 bilhões de juros! Certo? Não. Errado.
O tal superávit primário não dá para pagar o juro da dívida, pois esse superávit é de R$ 80 bilhões, pouco mais da metade dos juros !
Por isso, não hesito em dizer que o presidente terá em 2007 um governo quebrado que neste ano só investiu a ninharia de R$ 15 bilhões em obras. É nada, ou melhor, nada do nada diante da enorme necessidade de recursos que o País precisa para continuar produzindo e exportando. E olhe que nem vou me repetir dizendo que há risco de racionamento de energia.
NÃO TEM SAÍDA
Não adianta fazer contas de superávits daqui, superávits dali, tirar dinheiro de uma estatal daqui para pagar uma dívida ali. Só há uma saída para o presidente que assumir este sofrido e desanimado país: atrair investimento, arranjar dinheiro que não venha com mais aumento de impostos ou fazendo mais dívida naquele círculo infernal em que o País se meteu, ou melhor, em que meteram o País. E, quando falo em país, para mim uma entidade meio abstrata, estou falando em nós. Eu, você, o povo que paga imposto e não vê retorno em educação, saúde, segurança.
Resumindo: o governo está quebrado e precisa desesperadamente de investimento privado interno e externo.
QUANTO?
Foi essa mesma pergunta que a coluna fez ao prof. Antônio Corrêa de Lacerda, da PUC-SP. “A questão dos investimentos é vital para o futuro do Brasil. A questão-chave é que, para sustentar um crescimento econômico de 5% ao ano, o Brasil precisa de investimentos (Formação Bruta de Capital Fixo) da ordem de 25% do Produto Interno Bruto ao ano.”
A Formação Bruta de Capital Fixo equivale a todos os investimentos públicos e privados, nacionais e estrangeiros, envolvendo desde obras de infra-estrutura, até aqueles realizados por empresas, na ampliação da capacidade produtiva e aquisição de máquinas e equipamentos. Isto é, para continuarem aumentando a produção para que o crescimento econômico saia da modorra dos 2% ou 3% e chegue a 5%, pouco ainda para um país com 180 milhões de habitantes, uma economia até agora quase parada entre 2% e 3%, um país jovem e caro.
MAIS R$ 100 BILHÕES
“Os investimentos estão em recuperação desde 2003, quando atingiram 18% do PIB. No entanto, hoje patinamos em um nível próximo de 20%.”
Eu sempre olho com reserva quando se fala de porcentagens, pois, se um operário tem uma casa de um quarto e constrói outro, aumentou sua área construída em 100%. Por isso, insisto com o prof. Lacerda, quanto em dinheiro novo são esses 20%?
“Em números redondos de 2005, como o PIB é de cerca de R$ 2 trilhões, será necessário ampliar o volume de investimentos dos atuais R$ 400 bilhões para R$ 500 bilhões ao ano para que a economia cresça sem gargalos. Juros reais elevados (10% ao ano), taxa de câmbio valorizada e alta carga tributária são os principais entraves do ponto de vista macroeconômico.”
Mas Lacerda vai mais longe, não se trata só de dinheiro novo, pois isso está ligado a outros problemas. “Além desses aspectos, a pergunta a ser feita aos formuladores de política econômica dos programas governamentais é qual o papel do Estado nesse processo, assim como do capital privado nacional e do investimento direto estrangeiro.”
O presidente, qualquer que seja ele, vai ter de deixar claro o que ele pretende fazer para elevar o crescimento. Já sabe, desde já, que não tem dinheiro, que está endividadíssimo, que precisa de socorro do setor privado nacional e estrangeiro ou a economia afunda rá ainda mais a partir de 2007, um ano em que não se espera mais a bonança do crescimento mundial. Aumentamos impostos, aumentamos juros, nos associamos a parceiros inconfiáveis e considerados países fantasmas para qualquer investidor, nacional ou estrangeiro, como a Bolívia e a Venezuela.
ANTIAMERICANISMO INFANTIL
O presidente que assumir precisa mesmo é acabar com esse antiamericanismo infantil, simplesmente o Brasil não pode desprezar os investimentos e o mercado do país mais rico do mundo, tão rico que, sozinho, sustentou até agora o crescimento mundial.
Concluindo, sr. Presidente que assumir o comando do País, o sr. vai ou não vai abrir a economia brasileira para atrair dinheiro que não tem, sem aprontar mais para um povo que sofre tanto e já está cansado de tanto cansar?
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