EDITORIAL |
O Globo |
31/10/2006 |
O choque entre "desenvolvimentistas" e "fiscalistas", ou "monetaristas", é histórico. Vem de muito tempo, das discussões entre Eugênio Gudin e o industrial paulista Roberto Simonsen, na década de 40; dos desencontros de Mário Henrique Simonsen e Reis Velloso, no governo Geisel, até chegar, na redemocratização, às rusgas protagonizadas, no governo FH, entre Pedro Malan, de um lado, e, de outro, José Serra e os irmãos Mendonça de Barros. O governo de Luiz Inácio Lula da Silva não escapa à tradição. Com a diferença de que, agora, o choque envolve riscos mais elevados, pois os "desenvolvimentistas" do PT vêm de frações ideológicas fiéis a métodos intervencionistas mais radicais na condução da economia. O anúncio do ministro Tarso Genro de que chegou ao fim a "era Palocci", feito antes da proclamação oficial da vitória de Lula, é um nítido movimento de um bloco existente no governo contrário à autonomia tácita do Banco Central no combate à inflação. Tarso Genro, aliado de Dilma Rousseff e Guido Mantega, ressuscita a idéia da aceleração do crescimento como um ato de vontade pessoal. Volta-se a vender a ilusão de que basta o Copom fazer um generoso corte na Selic, abrirem-se os cofres do Tesouro, para a economia, lépida e sem distorções, passar a crescer a taxas acima de 5% ao ano, gerando os recursos fiscais necessários para evitar a reforma da Previdência e adiar cortes nos gastos de custeio. Ainda bem que, poucas horas depois da declaração de Tarso Genro, o próprio Lula, no primeiro pronunciamento como presidente reeleito, voltou a comprometer-se com a responsabilidade fiscal. A declaração é bem-vinda, mas não se deve esquecer das ambigüidades da era Lula. Pois declarações de fé no bom senso em matéria de política macroeconômica têm convivido, nos últimos dois anos, com a preocupante tendência de deterioração das contas públicas. Do ponto de vista das eleições, a farra fiscal foi um sucesso. Mas a fatura será cobrada. Se o assistencialismo via Bolsa Família consolidou, em algumas regiões, a marcha eleitoral rumo ao segundo mandato, foi a inflação baixa, por mérito do BC, que manteve o poder de compra dos reais destinados aos grotões. O presidente colocará em risco o segundo mandato se considerar possível acelerar a economia a canetadas, sem reduzir a carga tributária, sem melhorar o ambiente para os negócios e conter o fôlego dos gastos em custeio. Despejar dinheiro em circulação numa economia com taxa de investimento travada nos 20% do PIB é marcar encontro com a inflação para breve. |
Entrevista:O Estado inteligente
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terça-feira, outubro 31, 2006
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