Silvia Amorim |
O Estado de S. Paulo |
31/10/2006 |
Ex-presidente diz que conversa com oposição, defendida pelo sucessor, deve ser feita no Congresso, não no Planalto Com o cenário político nacional dos próximos quatro anos definido e o PSDB no centro da oposição, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso mandou ontem um aviso ao presidente reeleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). "Enquanto eu estiver aqui nessa terrinha, vou continuar dando trabalho", afirmou o tucano em um almoço em São Paulo com os principais empresários do País. Descartando qualquer pacto com o governo, FHC disse que a conversa que Lula sugere com a oposição não tem de ser feita no Palácio do Planalto, mas no Congresso. "Não se pode pedir, no dia seguinte das eleições, que haja uma adesão a quem foi eleito porque isso é contrário ao espírito da democracia." FHC não economizou nas críticas a Lula. Cobrou do governo uma agenda de crescimento até 2010 e disse que, se a política econômica continuar a mesma no segundo mandato, não será cumprida a promessa de crescimento econômico de 5% ao ano. "Essa agenda para o Brasil está carente de uma decisão mais objetiva. O Brasil não vai crescer 5% enquanto não houver a contrapartida dos investimentos públicos, redução de gastos correntes e a diminuição dos quadros partidários, que substituíram gente competente." Em discurso duro contra Lula, o ex-presidente disse que o "migrante e nordestino virou arrogante" e que o petista tem "memória curta" ao se vangloriar da estabilidade, embora tivesse sido contra o Plano Real. APELO Tido por tucanos como o único capaz de unificar o PSDB e apaziguar os grupos do governador eleito de São Paulo, José Serra, e do candidato à Presidência derrotado, Geraldo Alckmin, FHC fez um apelo ontem aos colegas. "Só vamos conseguir discutir sucessão com seriedade daqui a dois anos. Antes disso, todo mundo junto. Qualquer discussão sobre esse ou aquele é prejudicial. O partido tem de coibir isso." O tucano também fez uma avaliação sobre a derrota de Alckmin. Culpou o partido e, em um puxão de orelha público, pediu firmeza e menos medo na hora de defender suas idéias (privatização e programas sociais). Disse que o PSDB precisa de uma sacudida para enfrentar o segundo mandato petista. "É preciso dar uma chacoalhada no partido. Tem de botar o ovo e cantar. Nós não cacarejamos suficientemente (na campanha)", avaliou. "Era só dizer o que vai e o que não vai fazer (sobre privatização). Precisamos ter firmeza também na questão da justiça social e não abrir espaço para dizerem que o PSDB não está olhando para os pobres. Fui eu que comecei tudo isso (Bolsa-Família). Mas ninguém sabe. Temos que dizer." Agora é o momento de reorganizar o partido, enfatizou o tucano, e o principal erro a ser corrigido, na sua avaliação, é a falta de diálogo com a população mais pobre. "Hoje o partido não abre espaço para que as várias camadas da população dêem a sua opinião. Hoje o povo olha com desconfiança para uma classe política, mas vota nela porque não tem alternativa. Não pode", sentenciou. FHC defendeu que o PSDB adote postura firme, mas sem "fazer obstáculo por obstáculo". Apesar da vitória de Lula, disse que continua favorável à reeleição, mas criticou: "Nunca pensei que um presidente fosse abusar tanto do poder como o presidente Lula." |
Entrevista:O Estado inteligente
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terça-feira, outubro 31, 2006
FHC descarta hipótese de pacto com PT
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