RIO DE JANEIRO - "Os companheiros", um belo filme de Mario Monicelli, levava as platéias ao delírio nos breves e turbulentos anos Jango, às vésperas do golpe de 64. Era um drama em estilo semidocumental sobre uma greve heróica dos primeiros sindicalistas italianos, no tempo da jornada de 16 horas. Vivido pelo jovem Marcello Mastroianni, o líder sindical era arrebatador: o público saía do cinema pronto a pegar em armas e marchar sobre a burguesia opressora. A rapaziada assistia diversas vezes, aplaudia entusiasticamente no final, jurava solidariedade eterna à classe operária.
Na mesma época, meu tio era procurador da Justiça do Trabalho e tinha entre suas funções representar o Ministério do Trabalho em eleições sindicais. De padeiros e pedreiros, de bancários e barbeiros. E sempre voltava com histórias sensacionais das brigas, dos golpes e tramóias, era puro faroeste. Uma vez contou, às gargalhadas, que a eleição tinha sido anulada porque, para evitar a derrota, os comunistas (ou a direita) tinham cortado a luz e fugido com a urna.
O maior valor de um sindicalista que mereça o respeito e a confiança dos companheiros que o elegeram é sua capacidade de conquistar, no papo ou no grito, o melhor para sua categoria. Lula é o maior de todos eles, virou um mito, chegou a presidente da República. Mas, primeiro, aprendeu a ganhar as ferozes eleições no sindicato, onde a onça bebe água e luta com unhas e dentes pelo poder e pela ascensão social.
É nessa dura escola que se formou e cresceu a elite sindical lulo-petista que está no governo. Talvez por isso trabalhem tanto pelos companheiros, a central e o partido -e tão pouco pelo país e pelos contribuintes que lhes pagam os salários. Nesse filme, Mastroianni é Lorenzetti.
Entrevista:O Estado inteligente
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