Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, outubro 27, 2006

CLÓVIS ROSSI A comparação que interessa


SÃO PAULO - A sabedoria convencional diz que a iminente vitória de Luiz Inácio Lula da Silva se deve ao fato de ele ser "povão" e/ou ter sido pobre como a grande massa de votantes. A teoria é tentadora. Dispensa pensar muito e dispensa igualmente olhar o histórico eleitoral de Lula. Seus tempos de "povão" eram mais próximos em 1982 (candidatura ao governo paulista), 1989, 1994 e 1998. Perdeu todas as vezes. Logo, é razoável supor que a característica "povão" não é um ímã tão poderoso.
Parece mais lógico atribuir o êxito de 2006 às duas faces da eleição: a do Lula-presidente (não o Lula-povão) e a de Geraldo Alckmin-candidato-fraco. O Lula-presidente atrai mais eleitores que o Lula-povão convocou nas eleições anteriores, porque a comparação com a gestão FHC favorece Lula. Em alguns casos (criação de empregos, dado vital), favorece de fato. Em outros, é pura propaganda, mas pegou.
Mesmo assim, o Lula-presidente só conseguiu, no primeiro turno, atrair o voto de 37% dos eleitores inscritos. Ainda que se exclua a abstenção, a maioria absoluta do eleitorado votou ou em outros candidatos ou em nenhum deles.
Logo, é forçoso incluir a outra face da disputa na história para entender melhor o que parece ser o resultado mais provável de domingo. Como já foi dito aqui mesmo, se a maioria não quis Lula, uma maioria ainda maior (com perdão da redundância) não queria e continua não querendo Alckmin/tucanos.
Com isso, Lula ganha um segundo mandato e uma segunda chance de convencer a maioria. Mas terá, como aliás já insinuou, que descer do palanque e agregar à comparação com a gestão anterior, válida para fins eleitorais, a comparação entre o que faz com o que é necessário fazer -esta, sim, a variável que interessa ao país, bem feitas as contas no fim do dia.

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