Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, outubro 25, 2006

Sem discussão


EDITORIAL
O Globo
25/10/2006

Talvez se tivesse sido avisado que a Vale do Rio Doce estava na fase final de uma importante negociação, o candidato à reeleição Luiz Inácio Lula da Silva não arriscasse dizer que se fosse presidente em 1997 não a teria privatizado. Ou até mesmo mantivesse a posição, já que o objetivo do discurso estatizante parece ser meramente eleitoreiro, para tentar atrair votos de cabresto da esquerda menos ilustrada cativados por Heloísa Helena e Cristovam Buarque no primeiro turno.

Mas é indiscutível que a compra da segunda maior produtora de níquel do planeta, a canadense Inco, anunciada na madrugada de ontem pela Vale, fragiliza ainda mais a anacrônica posição assumida por Lula no debate eleitoral. Não se discute que a Vale estatal, subordinada a interesses políticos, amarrada a esquemas corporativos existentes no universo das empresas públicas, jamais conseguiria fazer uma operação de aproximadamente US$18 bilhões de dólares, com apoio de grandes bancos. Não teria crédito.

Concretizada a compra, a Vale se torna a segunda maior mineradora do mundo, superada apenas pela australiana BHP Biliton.

Só por ser privada, a empresa chegou a esse ponto. Com a desestatização já havia subido dezesseis posições no ranking mundial do setor - de vigésima do mundo passou para quarta. Com a privatização, o faturamento foi multiplicado por sete (de R$5 bilhões anuais para R$35 bilhões); os investimentos cresceram dez vezes (de R$400 milhões para R$4,2 bilhões por ano), e assim por diante. Até mesmo ampliou o efetivo: com as aquisições que já fez, antes de comprar a Inco, aumentou de 11 mil para 20 mil o número de funcionários.

A privatização faz a sociedade ganhar duplamente: o Estado não precisa gastar dinheiro do Tesouro em investimentos na empresa e ainda passa a recolher mais impostos, devido ao crescimento da ex-estatal.

Exemplo idêntico é dado pela Companhia Siderúrgica Nacional, privatizada no governo Itamar Franco. No momento, a CSN - que, na fase estatal, chegou a não ter crédito sequer para comprar carvão - estuda entrar na disputa pela compra da Corus, a antiga British Steel.

São inúmeros os dados concretos, irrefutáveis, para comprovar o êxito dessas privatizações.

Arquivo do blog