O Globo |
25/10/2006 |
Os mapas da eleição elaborados pela equipe do professor Cesar Romero Jacob, da PUC do Rio de Janeiro, indicam que o país não está separado regionalmente nem existe uma guerra entre ricos e pobres, já que os pobres nas regiões metropolitanas como as do Rio de Janeiro e de Minas Gerais votaram em Lula, e uma parte do Sul do país que tradicionalmente vota na esquerda votou em Alckmin, devido aos prejuízos do agronegócio. A percepção do eleitorado, segundo o estudo de Romero Jacob, é de que Lula estaria protegendo a pobreza das pessoas e a pobreza das regiões. O país não está dividido, mas a força de Lula entre os pobres, que querem manter os benefícios trazidos por seu governo, é evidente. Um mapa coloca os eleitores brancos em oposição a todos os outros grupos - pretos, pardos, amarelos, índios - e, onde o Brasil é mais mestiço, menos branco, bate com o mapa da votação de Lula, pegando grande parte da região Norte e parte ponderável do Nordeste, avançando até Minas. Um outro mapa, que mostra a disparidade de educação, contrapondo o número de pessoas de nível básico às pessoas de nível superior, indica que a disparidade na metade norte do Brasil é muito grande, o que vai de novo corresponder aos mapas do Lula. O mapa de disparidade de renda, baseado no número de pessoas com mais de 10 anos de idade com até um salário mínimo, contraposta aos que ganham mais de dez salários-mínimos, mostra que ela é muito grande no Amazonas e no Nordeste, avançando também por Minas Gerais. Nas áreas em que prevalece a população empregada na agricultura, o pequeno produtor pobre da Região Amazônica e do Nordeste, grande parte área de agricultura familiar, novamente a distribuição dos votos coincide com a votação de Lula. Romero Jacob está convencido de que essa parte norte e nordeste que votou fortemente em Lula votou com o bolso, mas não apenas por causa da Bolsa Família. "Os vários programas que o governo desenvolveu nessas áreas acabaram dando à população a percepção de Lula como pai dos pobres", analisa ele, citando especialmente programas como o Luz para Todos, o Pronaf. E o Pró-Uni, que dá "a percepção de que Lula quer possibilitar que o negro e o pardo possam chegar à universidade". Inversamente, as regiões Sul e Centro-Oeste também votaram pelo bolso, mas por causa do câmbio, ressalta Romero Jacob. Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, os três estados do Sul e São Paulo são áreas onde o agronegócio é muito forte, e ele foi prejudicado pelo dólar baixo. O cientista social chama a atenção para o fato de que mesmo numa parte do Sul do país, que pega o norte do Rio Grande do Sul, o oeste de Santa Catarina e o sudoeste do Paraná, "uma área tradicionalmente de eleitorado de esquerda, votaram em Brizola fortemente em 1989 e depois vota sempre em Lula e em candidatos que defendem a reforma agraria", mesmo nessa área Alckmin ganhou. Ao contrário dos protegidos pelo programa de agricultura familiar, esse pequeno produtor rural que integra o complexo do agronegócio na cadeia produtiva do sistema exportador foi afetado pelo dólar desvalorizado, e Lula também perdeu votos aí. O estudo mostra que o Triângulo Mineiro e o Sul de Minas, que integram esse Brasil agroexportador, votou com o bolso em Alckmin. Romero Jacob não acredita que a escolaridade mais alta do Sul tenha tido peso na decisão de voto tão forte quanto as questões econômicas, em qualquer região do país. "Se não fosse o bolso, com tantas denúncias contra o governo Lula ele já teria tido reduzido seu percentual de votos", comenta. Ele está convencido de que os votos nessas regiões estão consolidados, e mesmo que as pesquisas mostrem uma certa retração do Alckmin no Sul do país, acha que essa parte continuará votando nele. "A não ser que, no Mato Grosso, a adesão de Blairo Maggi represente compensações para o agronegócio que justifiquem uma reviravolta", ressalva. Para Romero Jacob, a discussão ética acontece fundamentalmente na classe média urbana escolarizada, que é onde há mais diversidade de opinião. Ele acha discutível que Alckmin esteja perdendo votação em relação ao primeiro turno, embora admita que, à questão ética do Alckmin, a resposta de Lula veio com a contestação das privatizações, um assunto que mexe com a classe média não por seu eventual conteúdo ideológico, mas pelo que afeta o dia-a-dia do cidadão. "No primeiro mandato de Fernando Henrique, como os serviços públicos sempre funcionaram mal, havia a idéia de que privatizando vai melhorar. Só que as tarifas públicas ficaram muito altas e o campeão de reclamação são as telefônicas. Há uma desilusão em relação à privatização", analisa. Por serem estatais, os serviços públicos eram baratos, mas funcionavam mal. "Privatizando, ficaram mais caros, e a exigência subiu. O parâmetro mudou, já não se compara com o que era antes, e há uma insatisfação com os serviços públicos". O debate moral também encontra barreiras no que ele chama de "ética muito flexível no país". O caixa dois é generalizado no país, diz Romero Jacob, lembrando os profissionais liberais, essencialmente de classe média, que trabalham com preços diferenciados com recibo ou sem recibo, e compram produtos piratas. E, por isso, ele acredita que esse eleitor está se debatendo entre a ética e o bolso, e é aí que a eleição pode ser decidida. Na coluna de ontem, quando escrevi que a variação de Lula foi de 67% de crescimento e 37% de queda, na verdade estava falando de pontos percentuais, porque comparava as porcentagens das eleições de 2006 com as de 2002. E a pesquisadora Dora Hees atualmente é professora da PUC-Rio. |
Entrevista:O Estado inteligente
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quarta-feira, outubro 25, 2006
Merval Pereira - O bolso e a ética
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