SÃO PAULO - A menos que as pesquisas eleitorais tenham cometido o mais colossal erro da história planetária desse instrumento, Luiz Inácio Lula da Silva dormirá esta noite como presidente reeleito do Brasil. Palmas para ele.
Mas, passada a embriaguez da festa, há um monstro bifronte à espera na primeira curva da esquina. Será ele que, em grande medida, determinará o veredicto do juiz seguinte que Lula enfrentará, a História, muito mais implacável que a urna, por mais informada e, por definição, com memória de muito mais longo alcance.
Primeira face do monstro: o desafio ético. Ilude-se quem pensa que a vitória lavou a imundície gerada pelo lulo-petismo. Basta lembrar que foi o escândalo do dossiê que levou a eleição para o segundo turno, contra todas as previsões, especialmente as do próprio Lula.
Esse fantasma não vai sumir. Mesmo que não produza efeitos legais, mancha qualquer biografia, ainda mais se houver um só novo trambique, mesmo que pequeno.
A segunda face do monstro é o desafio do crescimento econômico. Nenhum país -nem mesmo rico- suporta um quarto de século de crescimento anêmico. Também mancha biografias. George Bush pai ganhou a Guerra do Iraque, a primeira, mas perdeu a eleição pela anemia econômica de seu período.
Imagine Lula, que até agora não ganhou nenhuma guerra. Digo que o monstro é bifronte porque alto crescimento econômico ajuda a tornar menos irritantes os pecados éticos. Fernando Collor caiu não apenas por falta de decoro mas também por falta de crescimento (promoveu dois anos de recessão em três de governo).
A eleição de 2006 foi provavelmente mais teatral do que qualquer outra. Terminada a grande encenação, vem fase assim definida em frase do general e ex-presidente argentino Juan Domingo Perón: "La realidad es la única verdade".
Entrevista:O Estado inteligente
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domingo, outubro 29, 2006
CLÓVIS ROSSI O teatro e o monstro bifronte
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