Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, outubro 24, 2006

FHC COMPARA PT A NAZISTAS


Helayne Boaventura
Correio Braziliense
24/10/2006

Em discurso inflamado, Ex-presidente diz que estratégia petista é a mesma usada por Hitler: mentir “até que a mentira pegue”

São Paulo — A última semana da eleição presidencial entrou no clima de fim de campeonato de futebol, em que as torcidas dos times adversários não podem nem se aproximar. Desde o último final de semana, a inflexão dos discursos, que já haviam esquentado no segundo turno, chegou ao nível da agressão. Com as pesquisas de intenção de voto indicando vantagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em relação ao presidenciável Geraldo Alckmin (PSDB), os tucanos miram no petista para tentar uma virada. Em um evento para mais de mil apoiadores ontem em Pinheiros, região nobre da capital paulista, o ex-presidente Fernando Henrique deu o tom do que o partido deseja na última semana de disputa. Ele chamou Lula de “fanfarrão” e o acusou de usar técnicas da propaganda nazista para vencer a eleição.

Fernando Henrique acusou o PT de citar à exaustão na propaganda eleitoral dados, falsos segundo ele, até que se tornem verdade. “Em 1998 foi a mesma coisa. Disseram o diabo na TV. Eu não vou repetir as mentiras, inverdades e infâmias. Eles repetem, não se cansam da velha técnica nazista, mente, mente, mente e pega mesmo. Hitler foi eleito, pega”, atacou, em um discurso inflamado. “Teve um na Itália que não foi eleito, o (Silvio) Berlusconi mentiu bastante também. A campanha eleitoral é no estilo Berlusconi, no estilo (Joseph) Göebbels”, comparou, citando o ministro da propaganda nazista.

Sem mencionar diretamente o nome de Lula, o ex-presidente o chamou de “fanfarrão minerva”, referindo-se na verdade a “fanfarrão minésio”, apelido satírico dado ao governador mineiro Luís da Cunha e Meneses, em poema atribuído a Tomás Antônio Gonzaga. A desastrosa administração de Meneses teria contribuído para a Inconfidência Mineira. Confundindo-se, Fernando Henrique atribuiu o termo a Gregório de Mattos, para criticar Lula de gabar-se de realizações de seu governo. “O fanfarrão minerva, você lembra de Gregório de Matos? Muita prosa, prosa, prosa, dizem que ganharam tudo, fizeram isso, fizeram aquilo. Tudo cortina de fumaça”, atacou.

O presidente nacional do PT, Marco Aurélio Garcia, coordenador-geral da campanha de Lula, rebateu as declarações de FHC. Por meio da assessoria, Garcia disse que “a derrota parece haver subido à cabeça” de Fernando Henrique. “Diante da iminência do fracasso da campanha dos tucanos, FHC perdeu a compostura que a função de ex-presidente supõe”, afirmou o presidente nacional do PT.

Os ataques a Lula se acentuaram no final de semana, quando Alckmin turbinou o estilo mais duro adotado no segundo turno. Ontem, ele comentou pela primeira vez reportagem da revista Veja, segundo a qual o filho do presidente, Fábio Lula da Silva, faria lobby para empresas de telefonia. Inicialmente comedido ao tratar de temas familiares, o presidenciável adotou o argumento difundido por outros tucanos, para usar o caso: como é questão envolvendo o governo, deve ser tratada como corrupção e não como assunto pessoal.

Preocupação
O caso envolvendo o filho de Lula reforça a munição dos tucanos, que começam a demonstrar preocupação com a falta de fatos novos, fortes o suficiente para mudar o rumo da campanha, na investigação da tentativa atrapalhada de petistas de comprar um dossiê contra os adversários. Alckmin reclamou da “cumplicidade” dos acusados, que esconderia a real dimensão dos escândalos de corrupção. “Há uma proteção entre eles, cai um por um mas ninguém abre a boca. É impressionante este establishment de comparsas entre si”, atacou.

Com as críticas ácidas, os tucanos dão recados claros ao PT de que não aceitam a sugestão de um entendimento após as eleições. Fernando Henrique deu um aviso explícito ontem: não aceitará ser acusado de golpista por petistas por insistir na investigação do caso do dossiê depois da disputa. “Se houve crime eleitoral, tem de pagar. Entre isso e você imaginar que nós queremos um golpe ou vamos sabotar o Brasil, não faremos isso. Não somos iguais a esta gente”, rebateu (leia mais na página 3).

Injeção de ânimo

O evento promovido ontem pelo PSDB no Clube Pinheiros teve o claro objetivo de animar os apoiadores diante de um cenário preocupante para a candidatura presidencial de Geraldo Alckmin. Com críticas à falta de ética do governo do PT como pano de fundo, os tucanos utilizaram um argumento forte para manter acesa a empolgação da militância com a chance de vitória: a possibilidade de erro das pesquisas de intenção de voto. Alckmin fez questão de lembrar que os institutos apontavam a vitória de Lula no primeiro turno, o que não ocorreu.

Fernando Henrique argumentou que na campanha à reeleição saiu de um patamar de 8% e venceu a eleição. “O fanfarrão chegou perto, mas ganhei dele a eleição. Agora, o Geraldo impediu que ele ganhasse no primeiro turno e vai ganhar no segundo turno se nós acreditarmos em nós mesmos”, argumentou. O presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva (PDT), eleito deputado federal, chegou a dizer que, assim que assumir o mandato, irá recolher assinaturas para instalar uma CPI dos institutos de pesquisa.

Com a presença de artistas como a atriz Irene Ravache e o cantor Jair Rodrigues, a bancada federal e estadual do PSDB paulista em peso, e os pefelistas Cláudio Lembo, governador de São Paulo, e Gilberto Kassab, prefeito da capital paulista, a grande ausência foi do governador eleito do estado, José Serra, que estava em Curitiba.

No encontro, a viúva de Mário Covas, Lila Covas, explicitou a dificuldade de Alckmin de empolgar os tucanos, que se consomem em disputas internas e críticas à condução da campanha. “Estamos sendo engolidos. Será que ninguém vê isso? E pessoas do nosso partido ficam preocupadas porque Geraldo Alckmin falou de povão, falou não sei o quê”, reclamou, cobrando engajamento na reta final. (HB)

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