Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, outubro 24, 2006

Além do fato: Eleitoreira miragem do patrimônio

Fritz Utzeri

A classe média brasileira não tem a menor idéia de seus reais interesses. Caiu no conto de Luiz Inácio da Silva e foi vítima de uma miragem, de um "nacionalismo" anacrônico: a defesa do chamado "patrimônio público" (leia-se, de estatais ineficientes, cabides de emprego que pouco ou nenhum bem tem feito ao povo que as considera suas). Até o candidato dos tucanos caiu na armadilha.

Será que esquecemos a espera de anos por telefone fixo, declarado no Imposto de Renda e objeto de inventário, ou os U$ 5 mil que custavam os celulares estatais? Havia bolsas de telefones no Brasil. Privatizadas, as telefônicas, a Vale do Rio Doce e a Embraer são mais eficientes. Não significa que a privatização foi feita corretamente. Cabem ressalvas à maneira e ao preço pelo qual foram vendidas.

A Vale do Rio Doce foi privatizada por US$ 3,3 bilhões. Era uma estatal lucrativa, o lucro anual girava em torno de US$ 500 milhões. Após a privatização e investimento de US$ 16,5 bilhões, o lucro cresceu 24 vezes, para US$ 12 bilhões, quase quatro vezes o preço de sua compra.

A Vale privatizada gerou mais empregos, 41 mil contra 13 mil, quando era estatal. Agora a Vale está comprando a mineradora canadense Inco por US$ 18 bilhões, o que sugere que poderia ter sido vendida melhor pelo Estado.

Falou-se em irregularidades nas privatizações e foi dito que muita gente do grupo de FH enriqueceu. Cabia ao governo do NeoPT auditar as irregularidades e aplicar a lei se houve crime contra o patrimônio público. Na ocasião anunciou-se também que o dinheiro das empresas vendidas seria aplicado em educação, saúde e na amortização da dívida. Nada disso foi feito.

O governo neopetista referiu-se à "herança maldita", mas jamais mostrou aos eleitores seu alcance. Se houve crime, cabia ao NeoPT denunciá-lo ao povo e à Justiça.

Reclama-se da alta de tarifas públicas. Nas estatais, a cobrança dos serviços era feita por critérios políticos, e o sistema funcionava em perda, sem meios para investir e era necessário injetar recursos do Tesouro, gerando inflação, ou exigindo que o consumidor financiasse o serviço. Hoje, a tarifa telefônica é alta, mas há multiplicação de telefones, principalmente celulares, entre os pobres, o que antes era impensável.

O debate no Brasil não deveria girar em torno da privatização, mas da necessidade de estatizar o Estado. O Estado deve investir em saúde, educação, segurança, transporte urbano, que são tarefas intransferíveis. Elas não devem ser objeto de lucro, porque o lucro desses serviços é extensivo a todos. É investimento. Boa escola gratuita significa mais oportunidades. Melhor saúde implica melhores condições de vida da força de trabalho. Melhor segurança, todos sabemos o que implica, e o transporte urbano eficiente e barato ordena o crescimento urbano e melhora a qualidade de vida. Querem exemplo? Em 1991, a HP quis instalar uma fábrica de chips na América Latina. Pensou logo no Brasil mas acabou na nanica Costa Rica, por dois motivos: 1) povo mais instruído e mão-de-obra mais qualificada; 2) portos mais eficientes. Só isso.

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