Lula vê "trambicagem" no caso do dossiê Presidente atribui vazamento de imagens do dinheiro a razões políticas e critica comportamento da imprensa no episódio
Petista diz que "engenheiro político" do caso Lunus, que atingiu pré-candidatura de Roseana em 2002, deve ser o mesmo que atuou agora
MALU DELGADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Horas antes do dia da eleição, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu as declarações mais contundentes sobre a crise do dossiê -que mudou o quadro eleitoral e provocou a ameaça de um segundo turno.
Ele demonstrou crer em razões políticas para a divulgação das fotos dos reais e dólares apreendidos pela Polícia Federal ao flagrar a compra do material. O dossiê que seria comprado por petistas teria denúncias contra o candidato José Serra.
Durante uma entrevista inesperada no final da tarde de ontem, no salão de festas do prédio em que morou em São Bernardo do Campo, Lula fez cobranças sobre o comportamento da imprensa na divulgação das fotos e classificou a operação de compra e venda do dossiê de "trambicagem", "armação" e "engenharia política".
"Parece que algumas pessoas gostam de fazer esse tipo de trambicagem política. Não é a primeira vez. A história do Brasil está cheia de exemplos. Acho que, por desespero de alguns, com a perspectiva de não ganharem as eleições, resolveram armar essa confusão."
A imagem do total apreendido para a compra do dossiê, R$ 1,7 milhão, não vinha sendo divulgada pela PF. Ontem, os jornais publicaram fotos das cédulas. O delegado Edmilson Pereira Bruno assumiu que vazou o conteúdo das fotografias, mas negou motivação política.
O presidente comparou o episódio ao caso Lunus. Em 2002, no início da disputa eleitoral, a PF divulgou imagens de dinheiro apreendido na sede da empresa Lunus, que tinha como proprietários Roseana Sarney e seu marido, Jorge Murad.
O episódio implodiu a pré-candidatura presidencial de Roseana pelo PFL. Os pefelistas atribuíram a ação ao PSDB e deixaram o governo FHC.
"Quero que investiguem quem vendeu essa história do dossiê. Porque tem um engenheiro que bolou essa história do dossiê que possivelmente é o mesmo que bolou a engenharia da Lunus", afirmou.
Lula disse ter cinco indagações. "Quem foi que montou a engenharia do dossiê? Quem foi arrumar dinheiro para comprar esse dossiê? Qual é o conteúdo desse dossiê? Por que o delegado mentiu ontem para a imprensa? E por que quem gravou o que o delgado disse não publicou? Acho que isso são coisas que podem ser explicadas para a sociedade."
As fotos divulgadas pela imprensa não fazem parte do inquérito aberto pela PF, que corre em sigilo de Justiça. A Folha se amparou na Constituição ao preservar o sigilo da fonte.
"O que me deixa mais indignado é por que a imprensa, que estava presente e ouviu a declaração, omitiu que era o próprio delegado que deu as fotos e as razões pelas quais ele deu. O delegado deu explicações pelas quais ele deu as fotos, inclusive as razões políticas. Estranhamente, isso foi omitido."
Lula disse que não faria afirmações "levianas" sobre supostas vinculações partidárias do delegado. Segundo o presidente, ele prestará informações a seus superiores na PF. Lula não acusou diretamente o PSDB. No entanto, enfatizou que "a oposição passou 15 dias gritando: cadê as fotos".
Lula disse que acredita na vitória em primeiro turno e pediu aos brasileiros que compareçam às urnas hoje e "meditem na hora de votar". Passou o dia ontem em São Bernardo. Afável, distribuiu cumprimentos a todos os jornalistas ao final da entrevista, concedida ao lado da primeira-dama e do porta-voz da Presidência.
Entrevista:O Estado inteligente
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