FHC ataca Lula, mas "não cogita" impeachment
"Todo mundo ao redor dele está fazendo coisas que ele acha horríveis, mas ele não toma providências", diz o ex-presidente, sobre Lula
Marcelo de Moraes e Ana Paula Scinocca
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SÃO PAULO - Apesar de criticar duramente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse que não defenderá a idéia de abertura de processo de impeachment contra o petista, por conta das denúncias de irregularidades envolvendo integrantes do governo e do PT no escândalo da compra de um dossiê contra candidatos do PSDB, com dinheiro de origem ainda inexplicada.
"Eu não estou cogitando impeachment nenhum. O que estou cogitando é a vitória de Geraldo Alckmin, do José Serra, do Aécio Neves, do Almir Gabriel, do Teotônio Vilella", afirmou, depois de votar no Colégio Sion, em Higienópolis.
Fernando Henrique também reagiu com ironia ao pedido de impugnação, feito pelo PT, contra o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin. A campanha do PT apresentou o pedido, alegando que Alckmin teria se beneficiado eleitoralmente do vazamento das fotos do dinheiro que seria usado para comprar o dossiê. "Isso é bobagem. Piada, né? Não tem nada. Uma bobagem", afirmou.
O ex-presidente se disse "decepcionado" e afirmou que Lula "parece que está no mundo da Lua" por dizer que não sabe nada sobre as irregularidades atribuídas a funcionários do governo ou militantes do PT.
"Vou dizer com sinceridade. Eu me decepcionei com o presidente Lula. Sempre o acompanhei. Primeiro, lá em São Bernardo. Depois, fomos juntos contra o ex-presidente Fernando Collor. Depois, fomos um contra o outro. Depois, ele ganhou do Serra. E eu nunca tive decepção com ele. Sempre achei um líder autêntico. Agora, na Presidência, não sei o que ele pensa. Não sei o que ele é. Cada dia ele é uma coisa. Não é responsável por nada. Parece que está no mundo da Lua", disse.
"Todo mundo ao redor dele está fazendo coisas que ele acha que são horríveis, mas não toma providências. Ora, o presidente tem que ser um homem que assume as responsabilidades. Quando um auxiliar erra, tudo bem. Errou, eu demito. Não rompo com ele, eventualmente, a não ser que tenha sido demitido por safadeza. Mas demito. Ele não demite ninguém. As pessoas vão saindo aos poucos. Voltam. Ele chama de meus meninos. O que é isso? Acho que isso me decepcionou muito pessoalmente. A falta de capacidade de integridade pessoal, de assumir posições. Isso me decepcionou muito", criticou.