Este é um bom mês para um presidente buscando a reeleição. Em outubro, estão saindo dados positivos, como o da produção industrial, que revelou uma recuperação moderada; o número de desemprego deve cair; a inflação subiu um pouquinho apenas para confirmar que será baixíssima em 2006, a inflação dos pobres está ainda mais baixa: em 1,39% no ano. O Copom vai derrubar os juros novamente, em meio ponto percentual.
O IPCA divulgado ontem foi de 0,21%, e os jornais online publicaram: “A inflação subiu.” Ora, ora. A taxa permanece muito baixa. Principalmente o índice que mede a inflação dos mais pobres.
O IPCA reflete o aumento dos preços de produtos que está no consumo de famílias que ganham até 40 salários mínimos por mês. O INPC mede a inflação da cesta de consumo dos mais pobres, até seis salários mínimos. Há três anos, o INPC está abaixo do IPCA. A inflação de alimentos medida pelo INPC em setembro foi de 0,09%.
Inflação baixa sempre melhora o humor do eleitorado, principalmente o mais pobre e vulnerável à perda de renda. Isso o PT demorou a descobrir. Nos anos 90, achava que combater a inflação era desnecessário.
Em 98, Marco Aurélio Garcia, então coordenador do programa de governo, disse-me que combater a inflação era “um projeto conservador que se opôs ao desenvolvimentismo”.
Escrevi isso, ele negou, o jornal publicou o desmentido dele e minha reafirmação.
Sei o que meus ouvidos ouviram. Os atos do partido confirmavam as palavras.
Hoje o PT é beneficiário da lógica que finalmente entendeu: ninguém gosta de inflação, principalmente o pobre. Inflação baixa vira voto no governo. Os dois anos de menor inflação da nossa história recente foram 1998 e 2006. Em 98, o povo reelegeu Fernando Henrique Cardoso apesar de a crise estar rondando o país e do baixíssimo crescimento daquele ano. O estouro do câmbio que havia deixado a inflação assim tão baixinha ocorreu no ano seguinte, e a popularidade do presidente reeleito despencou. Agora o câmbio não é fixo, mas há problemas futuros já contratados.
Um deles, na agricultura.
Mas isso ficará para depois.
A produção industrial que saiu esta semana não foi excelente, mas foi positiva.
Mostrou uma recuperação leve. O dado é de agosto, mas saiu agora, mostrando que o terceiro trimestre melhorou em relação ao segundo.
O melhor número foi o de vendas de bens de capital, indicando investimento, o que pode levar, se for mantido, a um crescimento futuro. Porém é preciso que a tendência se confirme, porque, no segundo trimestre, houve queda do investimento. Há alguns sinais de que a produção industrial de setembro pode não ter sido positiva. Houve queda em carros e há outros dados antecedentes indicando que pode até haver um número negativo para setembro, mas ele só sairá depois das urnas fechadas.
O importante para o presidentecandidato é que ele tem tido e continuará tendo bons números para forrar seu palanque. A inflação continuará bem baixa, mas sem que haja deflação que, muitas vezes, sinaliza problemas na atividade. O IPCA vai permanecer na linha dos 0,2% a 0,3%, dando a sensação de conforto aos consumidores.
O acumulado do IPCA em 12 meses está em queda há oito meses. Os dados de balança comercial continuarão indicando que o comércio exterior está vibrante também este ano.
O presidente Lula poderá continuar dizendo que foi ele, com suas viagens, que fez o aumento da exportação brasileira. Os resultados semanais deverão indicar um saldo ao fim de outubro de US$ 4 bilhões, com US$ 45 bilhões garantidos no fim do ano. As exportações e importações continuam crescendo bastante.
No caso das exportações, o problema é que o que está aumentando é a venda de commodities; o Brasil está voltando a concentrar suas vendas para o exterior nas matérias-primas, ou seja, caso o preço delas caia, isso terá um impacto enorme na balança.
Por ora, porém, isso não tem como acontecer. Do lado das importações, elas estão crescendo em torno de 20% no ano, mas o que chama a atenção é que os bens de consumo duráveis estão com um aumento de 40% em 2006, um retrato de que, com o real mais valorizado, os importados vão rechear a mesa do Natal.
Um outro número que tende a ser positivo é o do Caged, de geração de empregos formais. O ritmo de geração de empregos estará menor este ano na comparação com o ano passado mas, mesmo assim, serão mais vagas criadas.
No caso do dado de desemprego divulgado pelo IBGE, há chance de que, depois de meses subindo, ele caia, ainda que fique acima de 10%, com dois dígitos, o que faz com que não seja um dado tão bom para a campanha. Mas, ainda antes do dia 29, Lula terá mais um bom motivo para comemorar: a queda dos juros. A penúltima reunião do Copom do ano acontece nos dias 17 e 18 de outubro e, nela, é bem provável que o Banco Central corte em 0,5 ponto percentual a taxa, levando a Selic a 13,75%. Alta para padrões internacionais, mas, de novo, um recorde de baixa.
O melhor para o candidato Lula é que o número de que o governo está fugindo, o do crescimento do PIB, só sai no fim de novembro.
No mercado, acreditase que ele pode ficar abaixo até de 1%, indicando mais um ano de crescimento pífio. No melhor momento da economia mundial, o Brasil, nos quatro anos Lula, só em um ano, 2004, aproximou-se da taxa média de crescimento do mundo. Mas fim do ano é longo prazo. Outubro será um mês de boa colheita de indicadores.
Entrevista:O Estado inteligente
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