Entrevista:O Estado inteligente

sábado, outubro 14, 2006

Lya Luft

Lya Luft
Está em nossas mãos

"Mais do que carisma, quero preparo,
compostura, equilíbrio e classe – que não
relaciono a bens materiais, mas à elite dos
honrados e dos capazes. Uma elite que nada
tem a ver com nome, dinheiro ou cargo, que
superou o retrógrado conceito de que é
culpada pelas desgraças da humanidade"

O destino prega muitas peças, ata e desata nós, abre e fecha caminhos, inventa encruzilhadas loucas e finais surpreendentes: a gente vai aos trancos e barrancos quase todo o tempo. A maior armadilha que ele, destino ou azar, nos prepara é exigir, aqui e ali, que a gente decida. Analisar e optar é tormento da maioria. Muito mais fácil que escolham pela gente, nós assobiando, olhando disfarçadamente os dados sendo lançados, para depois brindar ou lamentar: ah, o destino!

Dentro de alguns dias teremos de escolher aquele que governará nosso país. O que vai nos apoiar e orientar, o que terá autoridade e força para nos defender, o que será exemplo para nossos filhos, estímulo dos empreendedores, esperança dos doentes, alento dos velhos. Aquele que administrará com firmeza nosso maior bem concreto, o Brasil, e fará render em nosso favor o supremo investimento moral que fazemos: a confiança. Por essa escolha somos responsáveis. Temos essa extraordinária importância para o Brasil. Responsabilidade incomoda, opção pode ser um brete ou um mato sem cachorro, mas há que ser guerreiro para consertar com algo melhor do que com band-aid a honra machucada e as certezas abaladas.

Ilustração Atômica Studio


O povo – os pobres, os miseráveis, os remediados e também os que têm razoável conta bancária – vive sob um dilúvio de desinformações ou informações distorcidas, sob o massacre de quase cotidianos escândalos e desculpas desastradas. Mesmo assim... tem de escolher. Enfrentamentos mostram perfis diversos, da calma firmeza ao disparatado deboche, da determinação às mais pueris desculpas. Mas teremos, inevitavelmente, de decidir, e não é em questão menor: trata-se do líder deste país. Fala-se muito em carisma: a palavra, além de vaga, foi esvaziada pelo seu uso excessivo e confuso. Pode ser uma aura de força e sabedoria, justiça e retidão, até fraqueza ou alguma loucura humana, que as temos às pencas, expostas em público.

Buscar criaturas carismáticas é um perigo: alguns dos assim chamados na história do mundo não foram lúcidos nem honrados; alguns esconderam sob aparência e pretextos sua falta de coragem. Muitos provocaram caos e sofrimento. Eu, mais do que carisma, quero preparo, compostura, autoridade equilibrada e... classe – outra palavra que anda rara e rala. Não a relaciono com bens materiais, mas com a elite dos honrados e dos capazes. Gosto de pensar que existe uma elite que nada tem a ver com nome, dinheiro ou cargo, mas que superou o retrógrado conceito de que "as elites" são culpadas pelas desgraças da humanidade.

A idéia de que só pobres e explorados são boa gente é de chorar de tão tola. É perigosa, é manipuladora. Gera ódios, provoca injustiças, rasga abismos. É uma desgraça a mais a nos rondar nesta fase de desgraceira e enganação. Precisamos escolher, e pior: decidir amparados em coisas além de partido e ideologia, embora eles devam contar. Quase todos se fundiram e nos confundiram, descaracterizaram-se e nos largaram à beira do caminho, mãos abanando aflitas. Precisamos, então, escolher da maneira mais autônoma, mais pessoal: são poucas as luzes que nos iluminam, a política substituída por jogos de interesse, em trilhas de fuga e ocultação. Estamos sozinhos, estamos nus, precisados de recorrer ao nosso bom senso, nossa capacidade de olhar, observar, procurar saber e.... ainda uma vez, escolher.

Temos toda a possibilidade de fazer uma boa seleção: neste nosso mundo moderno, dados negativos explodem com malcheirosa lama na televisão mais moderna da mais sofisticada mansão e no mais humilde radinho de pilha da mais simples cabana. Eu não sabia, não fui informado, vai ser uma desastrada desculpa para falhar em tão séria opção, caso ela não seja firme e inteligente.

A importância do que vamos fazer é de assustar, mas, se não formos pusilânimes ou manipulados, teremos a consciência tranqüila, e o país encaminhado para mais independência, dignidade e crescimento real. Está em nossas mãos o futuro. Cada um de nós, no pequeno recinto da urna eletrônica, vai exercer o seu poder como um rei, determinando o seu destino. É uma dura carga, mas pode ser extraordinariamente estimulante, animadora, salvadora. Temos vez, e voz: que seja a nossa vez.

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