Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, outubro 19, 2006

Clóvis Rossi - Uma falsa questão



Folha de S. Paulo
19/10/2006

Não houve, desde o voto de 1º de outubro, nenhum fato novo a favor de Lula capaz de explicar o salto de 7 pontos a seu favor, nas urnas, para os 20 pontos da mais recente pesquisa.
Todas as bondades de seu governo (algumas reais, outras pura propaganda) já haviam sido expostas à exaustão. Logo, parece razoável atribuir o salto a uma queda de Geraldo Alckmin, sobre cuja candidatura, aí, sim, incidiu um dado novo: a campanha adversária colou nele (e no tucanato em geral) o rótulo de "privatista".
Privatizações não gozam de boa imagem não só no Brasil mas no conjunto da América Latina, conforme mostraram pesquisas do "Latinobarômetro", que faz a medida mais conceituada do humor do subcontinente.
Se essa percepção é correta, o centro do debate eleitoral estará girando em torno de uma falsa questão. Não há demanda pela privatização do que restou (basicamente Petrobras, Banco do Brasil, Caixa e Correios). Não há demanda porque são empresas lucrativas, que, ao contrário de estatais privatizadas antes, não sangram o Tesouro.
Além disso, é óbvio que a privatização ou a manutenção das quatro jóias restantes da coroa do Estado brasileiro não afeta, a não ser talvez marginalmente, o problema central, que é crescimento com menos desigualdade, menos miséria e mais segurança.
O crescimento foi pífio com essas empresas todas em mãos do Estado, e a desigualdade manteve-se obscena. Se a miséria caiu (pouco, mas caiu) foi, primeiro, pelo controle da inflação e, depois, por programas tipo Bolsa Família.
Idênticos problemas se mantiveram depois da privatização das teles, siderurgia etc. Se teria sido melhor ou pior de outra forma é impossível saber. Tudo somado, tem-se que a campanha não forneceu indícios de como se vai desatar o nó brasileiro.

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