Estamos vivendo um momento histórico delicadíssimo. As conquistas da redemocratização estão ameaçadas pelo projeto petista de poder. A agenda óbvia para melhorar o Brasil é um consenso entre grandes cientistas sociais. Vários prêmios Nobel concordam com nossos pontos essenciais de reforma política e administrativa, que fariam o país decolar.
Mas os despreparados sindicalistas e excomunas ignorantes têm um programa que nos levará a um retrocesso político trágico. Em pouco tempo, podemos ter a volta da inflação, caos político, ruptura institucional — tudo na contramão das necessidades de modernização do país.
Eles prometem medidas que nos jogarão de volta aos anos 50 ou para trás, pelo viés burro de um “socialismo” degradado num populismo estatizante: o lulismo. Enquanto isso, os cidadãos que comeram e estudaram, intelectuais e artistas cultos, os que bebem nos bares e lêem jornal ficam quietos. O Brasil está sendo empurrado para o buraco, e ninguém se toca? O que vai acontecer com esse populismovoluntaristaestatizante é óbvio, previsível, é bêaacute;-bá em ciência política. “Sempre foi assim...” — se consolam.
Mas não. “Nunca antes”, um partido montou um esquema secreto de “desapropriação” do Estado, para fundar um “outro Estado”. O ladrão tradicional roubava em causa própria e se escondia pelos cantos. Os ladrões deste governo roubam de testa erguida, como em uma “ação revolucionária”. Fingem-se de democratas para apodrecer a democracia por dentro.
Lula topa tudo para ser reeleito. Ele usa os bons resultados da economia do governo FHC para fingir que governou. Com cínico descaro, ousa dizer que “estabilizou” a economia, quando o PT tudo fez para acabar com o real, com a Lei de Responsabilidade Fiscal, contra tudo que agora apregoa como atos seus.
Se eleito, as chamadas “forças populares”, que ocupam os 30 mil postos no Estado aparelhado, vão permanecer nas “boquinhas”, através de providências burocráticas de legitimação.
As Agências Reguladoras serão assassinadas.
Os sinais estão claros, com várias delas abandonadas e com notícias de que o PMDB já quer diretorias.
O Banco Central perderá qualquer possibilidade de autonomia, como já rosnam os membros do “Comitê Central” do lulismo. A era Meirelles-Palocci será queimada, velho desejo de Dirceu e camaradas.
Qualquer privatização essencial, como a do IRB, por exemplo, será esquecida.
A reforma da Previdência “não é necessária” — dizem eles — pois os “neoliberais exageram muito sobre sua crise”, não havendo nenhum “rombo” no orçamento.
A Lei de Responsabilidade Fiscal será aos poucos desmoralizada por medidas atenuantes.
Os gastos públicos aumentarão, pois, como afirmam, “as despesas de custeio não diminuirão para não prejudicar o funcionamento da máquina pública”. Nossa maior doença — o Estado canceroso — será ignorada.
Voltará a obsessão do “controle” sobre a mídia e a cultura, como aconteceu no início do primeiro tempo. Haverá, claro, a obstinada tentativa de desmanchar os escândalos do chamado “mensalão”, desde os dólares na cueca até a morte de Celso Daniel e Toninho do PT, como já insinuam, dizendo que são “meias verdades e mentiras, sobre supostos crimes sem comprovação...”.
Leis “chatas” serão ignoradas, como Lula já faz com a lei que proíbe reforma agrária em terras invadidas ilegalmente, “esquecendo-a” de propósito. Quanto ao MST, o governo quer mantêlos unidos e fiéis, como uma espécie de “guarda pretoriana”, a vanguarda revolucionária dos “aiatolás petistas”, caso a crise política se agrave.
Não duvidem, eles serão os peões de Lula.
Outro dia, no debate, quando o Alckmin contestou Lula ao vivo, ouviu-se um “ohhhh!....” escandalizado entre eleitores, como se o Alckmin tivesse cometido um sacrilégio. Alckmin apenas atacou a intocabilidade do operário “puro” e tratouo como um cidadão como nós, ignorando a aura de “ungido de Deus” de Lula, que os fanáticos intelectuais lhe pespegaram. Reagiram como diante de uma heresia, como se Alckmin tivesse negado a virgindade de Nossa Senhora ao lhe perguntar: “De onde veio o dinheiro?” Agora, sem argumentos diante dos escândalos inegáveis, os lulistas só agem pela Fé. Lula sempre se disse “igual” a nós ou ao “povo”, mas sempre do alto de uma “superioridade”, como se ele estivesse “fora da política”, como se a origem pobre e a ignorância lhe concedessem uma sabedoria maior. Agressão é o silêncio cínico que ele mantém, desmoralizando as instituições pela defesa obstinada da mentira. Mas os militantes imaginários que se acham “amantes do povo” pensam que Lula não precisa dizer a verdade; basta parecer. Alguns até reconhecem os crimes, mas, “mesmo assim”, votarão nele. Muitos têm medo de serem chamados de reacionários ou caretas.
Há também os “latifundiários intelectuais”: acadêmicos e pensadores se agarram em seus feudos e não ousam mudá-lo. Uns são benjaminianos; outros, marxistas; outros, hegelianos, gurus que justificam seus salários e status acadêmico e, por isso, não podem “esquecer um pouco o que escreveram” para agir. Mudar é trair, para ortodoxos. Ninguém tem peito de admitir a evidência inevitável de que só um “choque de capitalismo” destruiria nossa paralisia estatal, burocrática e patrimonialista, pois o mito da “revolução sagrada” é muito forte entre nós. Se há uma coisa que une esquerda e direita, é o ódio à democracia (Bobbio).
Os intelectuais dissimulados votarão em Lula de novo e dizem que “sempre foi assim” porque, no duro, eles acham que o lulo-dirceusismo estava certo, sim, e que o PT e sua quadrilha fizeram bem em assaltar o Estado para um “fim revolucionário”.
Vou guardar este artigo como um registro em cartório. Não é uma profecia; é o óbvio, banal, previsível. Um dia, tirá-lo-ei do bolso e sofrerei a torta vingança de declarar: “Agora não adianta chorar sobre o chopinho derramado...
Eu não disse?...”
Entrevista:O Estado inteligente
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