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O candidato do PSDB à Presidência da República vai reduzindo sua chance de ganhar a eleição e, caso perca mesmo, não poderá culpar o eleitorado por ter sido tolerante com a corrupção e interesseiro com as benesses oferecidas aos muito pobres e aos muito ricos.
Geraldo Alckmin recebeu do eleitor a oportunidade de zerar o jogo no segundo tempo, mas administra mal as circunstâncias. Ganhou de presente até um escândalo novo para refrescar a memória a respeito de tantos outros, mas, sabe-se lá se por influência dos defensores da tática 'desconstrutiva', se por inconsistência programática ou inépcia de comunicação, concentra todos os esforços no episódio do dossiê Vedoin, tentando tirar leite de pedra.
O assunto deu a Alckmin a possibilidade de inaugurar a temporada de debates na ofensiva. Saiu-se muito melhor que o presidente Luiz Inácio da Silva, mas ficou nisso. De lá para cá, quem está nas cordas é ele. Não consegue responder adequadamente às invencionices eleitorais do PT e ainda entra na lógica do adversário, reagindo ao assunto privatizações aos balbucios intimidados.
Natural que negue intenção de privatizar o que não pretende realmente vender, o Banco do Brasil, a Caixa Econômica, a Petrobrás. Mas o conceito da eliminação do Estado em setores onde a impossibilidade de investimentos, a incapacidade de gestão e a manipulação política sucateiam empresas e privam a população de serviços à altura de seus impostos é não só defensável como venceu na sociedade nas duas eleições de Fernando Henrique Cardoso.
Mas, receosos de arcar com os ônus das ações negativas do passado, PSDB e PFL menosprezam os aspectos positivos, deixando de lado o maior deles: o fim da inflação. Geraldo Alckmin, por sua vez, quer se mostrar como o 'novo' e aí abandona o que foi bom no passado e não apresenta as credenciais do futuro. Patina nas platitudes sobre 'mais emprego', 'muito trabalho', 'educação e saúde de qualidade'.
Tudo isso é ótimo, mas, convenhamos, soa genérico e insuficiente para despertar no eleitor a vontade de votar.
O PT, de seu lado, não só supervaloriza seus feitos sem o menor constrangimento, como ignora solenemente seus malfeitos, sem mostrar intimidação moral, o que esvazia a denúncia da conduta antiética.
Para todos os efeitos, principalmente para efeito eleitoral, fica parecendo que o PT trabalha com fatos e o PSDB se contenta com conceitos. Dá aulas de educação moral e cívica e se esquece de outras lições igualmente importantes para o exercício da governança e a respeito das quais dispõe de material para exibir.
A pressão pela celeridade e transparência nas investigações sobre a origem do dinheiro além de legítima é necessária. Agora, a duas semanas da eleição, reunir os altos comandos de quatro partidos para discutir como interferir no trabalho da Polícia Federal de modo a descobrir provas da operação abafa comandada pelo ministro da Justiça passa ao eleitor a impressão de que a oposição está mais empenhada e preparada para desqualificar o oponente do que propriamente para 'provar' ao País que seu candidato é o melhor para presidi-lo nos próximos quatro anos.
PSDB, PFL, PPS e parte do PMDB reunidos numa segunda-feira para tratar de um assunto cujas evidências já estão devidamente postas denota excesso de vocação para a produção de factóides.
A menos que esses partidos no Congresso instalassem uma CPI para investigar a PF ou encaminhassem ao Ministério Público provas consistentes para a abertura de um inquérito, não há efeito prático na discussão.
Levantar questões que inquietam o País e carecem de explicações é imperativo. Não faria sentido a oposição tratar de forma secundária o dado fundamental de que Lula governou premido por escândalos resultantes dos métodos por ele adotados para sustentar o poder.
Mas tampouco faz sentido tentar ganhar uma eleição só pela via da exclusão, rendendo-se ao papel de 'menos pior', abstendo-se de empenho efetivo na tarefa de convencer as pessoas de que é o melhor.
Incisivo nas acusações no primeiro debate, Alckmin só poderá aproveitar a chance dada pelo eleitorado ao não eleger Lula no primeiro turno se nos próximos for tão veemente e convincente também no que pretende lhe diga respeito a partir de janeiro de 2007: o ato de governar.
Vontade dos réus
O ministro da Justiça desafia a oposição a apontar 'uma providência' sua para favorecer o PT nas investigações do caso dossiê, acha que os tucanos tentam 'privatizar' as ações da Polícia Federal ao suspeitar de manipulação partidária, mas reconhece que os envolvidos 'não estão falando a verdade'.
Sobre a possibilidade de uma atitude mais firme para com os acusados - como foi feito com os empresários Vedoin, que acabaram confessando, pressionados pela prisão -, Márcio Thomaz Bastos sai pela tangente: 'Não havendo confissões, o único jeito é reconstruir o caminho do dinheiro por meio da investigação técnica.'
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