Artigo - Villas-Bôas Corrêa |
Jornal do Brasil |
1/8/2007 |
Talvez não seja o melhor autor para ser citado no momento, mas, vá lá: quando no auge da atribulada carreira, o então governador paulista, Ademar de Barros, dono da caixinha e candidato perpétuo à Presidência da República, cunhou a sentença que ganhou fama e jamais foi esquecida: "O Brasil precisa de um gerente". E que agora é mais uma vez citada muito a propósito: a crise do governo do presidente Lula é basicamente de gerência. É a sensação de que o país está sem comando que ilumina o inegável sucesso da entrada no palco do novo ministro da Defesa, Nelson Jobim, que assumiu com a gana e o desembaraço de um presidente em exercício, não apenas da área sob o seu comando, mas que transborda para os vazios da inércia do maior governo etc. O ministro Nelson Jobim entrou em campo chutando canelas, com o mesmo desembaraço com que, na presidência do Supremo Tribunal Federal (STF), em celebrada dobradinha com o sumido ex-deputado Severino Cavalcanti, líder do baixo clero - que sobrevive, mais forte do que nunca - emplacou o tríplice reajuste de vencimentos para a cúpula togada, com a antecipação mágica dos índices futuros de inflação. Com o efeito cascata, a tacada da dupla inundou o déficit dos orçamentos estaduais e municipais com o automático reajuste dos desembargadores, juízes, promotores da cadeia de felicidade dos privilegiados. Pois é o mesmo ministro Nelson Jobim que encerrou a quarentena com a gana para acertar o passo com o destino e as suas ambições. Convidado para ajudar o governo enterrado até o gogó na crise do apagão aéreo, depois do charme das hesitações e cutucado pelo conselho doméstico, assumiu a pasta de apatia crônica sem a menor cerimônia em avançar além dos limites do latifúndio abandonado. Em dois ou três lances sucessivos começou a restabelecer a ordem na mixórdia com medidas óbvias que celebram o alívio da bagunça do transporte aéreo e passam para o público a sensação de que o governo despertou do sono chumbo. Afinal, para constatar que o aeroporto de Congonhas é uma arapuca cercada de prédios, com as pistas sem conservação e sem a mínima condição de suportar o excesso de pousos e decolagens da irresponsabilidade não é preciso ser um gênio da raça. Bastou a ordem de cima para a redução de 151 vôos diários. E a distribuição para quatro aeroportos das escalas dos vôos nacionais e internacionais. E tocar a boa rotina, despejando os incompetentes, como é o caso do presidente da Infraero, brigadeiro José Carlos Pereira. Por tibieza e inexperiência, Lula deixou escapar a oportunidade de faturar, com inteira justiça, o sucesso internacional do Pan. Um notório apaixonado pelo esporte, peladeiro sessentão dos rachas na Granja do Torto, o presidente apoiou com entusiasmo e verbas generosas as monumentais obras para a realização dos maiores Jogos Pan-Americanos de todos os tempos, como atestam depoimentos insuspeitos. A surpresa da vaia no Maracanã lotado detonou a série de equívocos, desde a troca de suspeitas sobre a montagem da assuada ao lamentável comportamento presidencial, que quebrou o protocolo ao não ler a frase simbólica declarando inaugurada a grande festa. Líder não foge, enfrenta a vaia. Lula errou duas vezes. Pior no repeteco. O público no encerramento lavara a alma com o estupendo desempenho dos nossos atletas. Estava ali para aplaudir. E tudo indicava que Lula receberia os justos aplausos que abafariam os eventuais apupos. Agora ficou mais difícil reverter a reação popular. Onde Lula aparecer dividirá vaias e palmas, na antecipação do clima de campanha aos sete meses dos quatro anos do segundo mandato. |
Entrevista:O Estado inteligente
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quarta-feira, agosto 01, 2007
Villas-Bôas Corrêa A crise do governo é de gerência
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