Entrevista:O Estado inteligente

domingo, agosto 26, 2007

Alberto Tamer

Economia contra-ataca a crise


E o caos foi adiado nesta semana, calando os profetas do apocalipse que previam o fim do mundo com a crise do crédito imobiliário nos Estados Unidos.

Nesta sexta-feira, as bolsas americanas, européias, asiáticas e brasileira fecharam em alta, após um período de intensa turbulência, que levou os bancos centrais a injetarem no mercado mais de US$ 500 bilhões.

A calmaria voltou quando o Departamento do Comércio americano informou indicadores extremamente positivos. A demanda por bens duráveis aumentou em 5,9% nada menos que US$ 230,7 bilhões e a venda de carros deu um salto de 9,8%, o maior desde janeiro de 2003.

ATÉ IMÓVEIS VÃO BEM

O que mais surpreendeu e repercutiu no mercado financeiro foi o excepcional aumento de 2,8% na venda de imóveis. Foram vendidas 873 mil residências novas e agora o estoque de imóveis à venda caiu para 533 mil; isso é 6% a menos do que na maior queda, em janeiro do ano passado. O mercado de construção civil, que é um motor de qualquer economia, representa 4% do Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA.

IMPRUDÊNCIA PERMITIDA

O que significa isso? É simples. Primeiro, é sinal de que a crise imobiliária, como sempre acentuou esta coluna, não tinha a gravidade que muitos apregoavam. Sempre afirmamos que as economias americana e mundial tinham bases sólidas de crescimento e que, mesmo prevendo surpresas com altos e baixos, os EUA estavam longe da recessão. Critiquem-se as autoridades reguladoras pelo atraso em alertar para a crise, mas não se pode projetar excessivamente seus efeitos sobre a economia real que, como se vê mais uma vez, agora, está sólida nos EUA, na Europa e na Ásia.

Não teria sido, porém, apenas uma recuperação insustentável que não fluiria nas próximas semanas? Havia algum cuidado, sim, entre os analistas. Haseeb Ahmed, do JP Morgan, dizia que os dados atuais de compra não descontam ainda as ordens de cancelamento. Brian Bethune, da Global Insight, de Massachussets, contra-argumentava com muita propriedade, "mesmo que possa haver alguma redução deste" momentum ainda em agosto, não estaremos começando de um ponto baixo.

ESTÁ DIFÍCIL COMPRAR!

O segundo fator da virada é que os americanos mais prudentes estão aproveitando agora o recuo dos preços dos imóveis, que chegaram a dobrar nos últimos cinco anos, para comprar na baixa. Americanos e imigrantes tinham aproveitado de forma imprudente a grande bolha imobiliária, para comprar não um, mas dois imóveis com duas hipotecas. A correspondente do Estado, Patrícia Campos Mello, conta a história de uma imigrante brasileira que havia adquirido duas casas, alugou a primeira, mas não tinha como pagar a hipoteca da outra. Estava desesperada... Foi uma vítima? Sim, mas não do sistema e sim da sua ousadia e ambição.

E O CONSUMO INTERNO

Os americanos continuam consumindo. Viva para eles! Enquanto compram, estão importando US$ 2 trilhões por ano e nós, vendendo. E se vendemos só o equivalente a US$ 26 ou US$ 28 bilhões, é culpa nossa, não deles. Só não podem é continuar adquirindo vários imóveis ao mesmo tempo para obter lucros que conseguiram no passado, mas não conseguirão mais.

A analista brasileira, Nana Hamaoui, há mais de dez anos nos EUA, diz que está difícil comprar em Nova York por causa das enormes filas para pagar. "Outro dia eu desisti de comprar um livro após esperar 15 minutos na fila do caixa", comenta ela. "É isso em todos os lugares. Nos supermercados, nem falar. É uma tortura fazer as compras da semana por causa das filas intermináveis."

Este é um exemplo do que está acontecendo na economia real americana. Não há crise e quem andou falando em recessão, nesta semana - por estranha coincidência exatamente o executivo da Countrywide, que se afundou com hipotecas duvidosas - está exagerando ou fazendo jogo próprio.

À ESPERA DO FED

No fim da tarde, era menor a expectativa de que o Fed venha a baixar a taxa básica de juros em setembro. Havia ainda muita pressão, mas pouca esperança, pois os indicadores de venda de imóveis e consumo permitem ao Fed esperar e enfrentar qualquer nova turbulência com mais injeções de liquidez no sistema.

E PARA NÓS...

Se o cenário melhorou lá, melhora aqui também. A Bovespa refletiu bem o clima do mercado americano, os índices em forte alta, fechando a semana com ganho de 9,14%. Foi um resultado excelente, para este clima adverso e tenso. Na verdade, nos últimos anos, o índice Bovespa valorizou-se em 300%.

Aqui, no Brasil dos discursos gloriosos, vamos seguindo no ritmo mundial; o que acontecer lá, acontecerá aqui, mesmo que seja em tensão menor. Para nós, só resta reforçar o crescimento, não com discursos, mas fatos, única forma de fortalecer a economia brasileira para enfrentar choques no exterior. Numa economia globalizada, nenhum país é uma ilha. Muito menos o Brasil que se atrasou tanto.

*E-mail: at@attglobal.net

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