Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, agosto 22, 2007

Celso Ming -O preço da segurança

Antes do estouro desta bolha, os analistas apontavam para o risco de que houvesse importante desvalorização do dólar diante das outras moedas fortes e também diante de outros ativos, como ouro, commodities e imóveis.

Esta coluna (no dia 9) comentou declarações de autoridades chinesas de que, em resposta às pressões dos Estados Unidos pela valorização do yuan, a moeda local, poderiam pôr à venda boa parte dos US$ 900 bilhões em títulos do Tesouro dos Estados Unidos que hoje compõem as reservas chinesas. Isso provocaria uma perigosa derrubada das cotações do dólar nos mercados internacionais de câmbio.

Mais ainda, os analistas vinham apostando em que o ajuste do rombo em conta corrente dos Estados Unidos (US$ 800 bilhões por ano) dificilmente se faria sem desvalorização do dólar.

Pois essa crise está tendo efeito oposto. A quebra de confiança que se seguiu às dificuldades de identificar as principais vítimas vem causando enorme corrida para a segurança, em direção aos títulos do Tesouro dos Estados Unidos, os T-Bonds (também conhecidos como treasuries), o que leva ao colapso dos rendimentos desses títulos.

Fácil entender esse efeito. O aumento do interesse pelos T-Bonds eleva seu preço de face. Ou seja, os aplicadores têm de desembolsar mais dólares do que desembolsariam antes para ficar com o mesmo título. Como os juros são previamente definidos por contrato, quanto maior o desembolso na compra do título, menor seu rendimento (yield).

Ontem, devido à enorme procura, os Treasuries Bill (T-Bill) de 3 meses, título de prazo mais curto emitido, chegaram a pagar um yield de 3,31% ao ano. Levada em conta a inflação americana de 2,8% ao ano, o Imposto de Renda de 15% e a comissão paga ao corretor, o retorno real do T-Bill ficou perto do zero ou, dependendo da trajetória da inflação, até negativo. Assim, seria melhor dar refúgio aos dólares nos depósitos à vista ou mesmo nos forros do colchão do que aplicá-los na renda fixa. Os aplicadores foram atrás dos treasuries, porque não confiam na saúde dos bancos.

Essa corrida também pressiona o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) a derrubar os juros básicos, hoje em 5,25% ao ano, antes mesmo da reunião agendada para o dia 18 de setembro. Bastou que, ontem, após um encontro com o presidente do Fed, Ben Bernanke, o senador Christopher Dodd, presidente da Comissão de Bancos, dissesse que o Fed deve usar todos os meios para acalmar o mercado para que o yield dos T-Bill voltasse a reagir.

Essa abdicação do retorno financeiro em favor da segurança sugere que, tão logo seja restabelecida a confiança, o aplicador deverá voltar às aplicações de risco.

No mais, não deixa de ser estranho que o país da crise tenha seus títulos e sua moeda tão valorizados como estão sendo. Isso mostra que a economia globalizada não providenciou segurança maior do que os Treasuries podem proporcionar, nem abriu espaço para outra moeda de reserva que não seja o dólar.

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