Entrevista:O Estado inteligente

sábado, agosto 25, 2007

A expansão global dos cassinos

O mundo faz suas apostas

Os cassinos estão se tornando uma grande
atração do entretenimento globalizado


Duda Teixeira

AFP
O cassino Wynn Macau, inaugurado em 2006, custou 1,2 bilhão de dólares: um modelo para países emergentes


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Quadro: Os 10 países que mais faturam com cassinos e os que mais crescem

Dois setores da economia global cresceram a taxas idênticas nos últimos cinco anos – ambas espetaculares. Um deles foi o de turismo internacional. O outro, mais inesperado, é o de cassinos. O aumento no volume de faturamento no mundo da roleta foi de 53% no período. De acordo com um estudo recente da consultoria americana PricewaterHouseCoopers, a inauguração de dezenas de cassinos prevista para os próximos cinco anos vai provocar a estratosférica expansão de 40% e chegar a 144 bilhões de dólares. Uma fatia crescente desse dinheiro não virá de locais tradicionais do jogo, como Las Vegas ou Mônaco, mas de novos centros de jogatina: Macau, Coréia do Sul, Cingapura, Rússia, países da Europa Ocidental e da África.


Nos últimos oito anos,
o número de países
com cassinos aumentou
de 109 para 138


Há várias explicações para o crescimento. Uma foi a entrada de novos países no jogo, como forma de atrair turistas. Nos últimos oito anos, três dezenas deles legalizaram os cassinos. Outra foi o ingresso dos grandes investidores no negócio. Os cassinos de Las Vegas, por exemplo, que até os anos 70 eram controlados pela Máfia, hoje estão em mãos de fundos de investimento ou de pensão. Ou seja, seu dono real pode ser uma pequena associação de investidores do interior dos Estados Unidos que freqüenta a igreja e jamais arriscaria pessoalmente um dólar num jogo de azar. Em escala global, três grandes bancos de investimento, o Bank of America, o Goldman Sachs e o Deutsche Bank, disputam o financiamento da expansão dos cassinos. No comando dos empreendimentos estão empresários do ramo, companhias da área de entretenimento, como os estúdios Universal, e empreendedores ousados, como Richard Branson, dono do grupo Virgin.

Muitos cassinos erguidos em países em desenvolvimento levam o nome de suas matrizes americanas. Após a construção dos complexos, normalmente eles passam a ser administrados por grandes cadeias de hotéis, como os grupos Holiday Inn, Sheraton e Four Seasons. Os cassinos aproveitam a chegada de uma nova geração de jogadores, que aprenderam a apostar na internet. Até a moralista Cingapura, cidade-estado que multa quem cospe no chão, aderiu ao jogo. Estão em construção dois imponentes cassinos, um investimento de 7 bilhões de dólares. Um deles, o Genting, incluirá um parque temático da Universal Studios e um aquário gigante. A inspiração veio de Macau, colônia portuguesa entregue à China em 1999. Sem outros atrativos exceto um modesto conjunto de prédios coloniais, o enclave descobriu que dispunha de um tesouro: é o único trecho do território chinês no qual o jogo de azar é liberado. Sete cassinos foram abertos no ano passado em Macau. O maior cassino do mundo, o Venetian, será inaugurado na semana que vem. Terá canais com gôndolas, shopping center e um centro de convenções.

Há hoje 7.400 cassinos em todo o planeta. A globalização do jogo não ocorre sem resistência. Em Cingapura, grupos cristãos e muçulmanos reclamam que o jogo produz viciados e aumenta a criminalidade. A veracidade do primeiro efeito está fora de discussão. Já a relação direta com a criminalidade é discutível. Um estudo realizado por duas universidades americanas mostrou que não mais de 30% dos crimes em cidades com cassinos nos Estados Unidos estão relacionados à jogatina. Um em cada dois membros dos Jogadores Anônimos do país declara ter roubado para financiar o vício. Também ocorrem crimes simplesmente porque a presença de turistas atrai assaltantes e outros criminosos. O crime maior – a lavagem de dinheiro – pode ser controlado com um sistema eficiente de fiscalização. "Esse tipo de delito tem diminuído bastante nos países que se preocupam com isso", disse a VEJA o economista americano Doug Walker, especialista na indústria dos jogos. Curiosamente, em alguns países o cassino é visto não como um estímulo à sonegação fiscal, mas, sim, como uma medida para compensar a inabilidade do estado em coletar outros impostos. O México e a Rússia são os exemplos mais notórios. Descobriram que é mais fácil e eficaz coletar impostos sobre o jogo do que tentar coibir a sonegação fiscal generalizada que existe nesses países. A fórmula para tirar apenas os benefícios da jogatina consiste em manter um controle rígido sobre as atividades e movimentação de dinheiro nos cassinos.

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