Entrevista:O Estado inteligente

sábado, agosto 25, 2007

100 dias de Nicolas Sarkozy na Presidência

Cem dias de emoção
com Super-Sarko

Na política externa e em questões domésticas,
Sarkozy é uma usina de idéias e ações enérgicas


Diogo Schelp

A cor do cavalo branco de Nicolas: atrevido como Napoleão, ele quer revirar o modo francês de governar
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Pouco antes de ser eleito presidente da França, Nicolas Sarkozy voltou de um almoço com o então primeiro-ministro inglês Tony Blair dizendo a seus assessores, em tom jocoso: "Tony e eu acabamos de tomar uma decisão. Vamos conquistar a Europa". O episódio é descrito em um livro lançado na semana passada pela dramaturga francesa Yasmina Reza, que acompanhou os bastidores da campanha presidencial de Sarkozy. Há 100 dias no cargo, completados na semana passada, o presidente francês dá mostras de querer muito mais do que simplesmente conquistar a Europa. Ele demonstra tal energia e capacidade de apresentar novas idéias – e de transformar rapidamente muitas delas em fatos concretos – que até os franceses mais bem informados estão tendo dificuldade em acompanhar. Super-Sarkô, Hiperpresidente e Nicolas Bonaparte (em referência ao agitado e centralizador Napoleão Bonaparte) são alguns dos apelidos que a imprensa francesa cunhou para o ativo Sarkozy.

Mesmo de férias – sim, ele já tirou férias porque tout le monde sai de Paris em agosto –, o presidente não parou de trabalhar nem se afastou dos holofotes. Nas duas semanas em que descansou com o filho Louis nos Estados Unidos (ele voltou na quinta-feira passada para Paris), Sarkozy encontrou tempo para fazer vinte declarações à imprensa, retornar rapidamente à França para comparecer ao enterro de um cardeal e voltar para o almoço com o presidente americano George W. Bush e sua família. As relações entre os dois países sempre foram complexas e um tanto relutantes. Sarkozy já conseguiu aquecê-las a um nível sem precedentes. Os franceses estão extasiados (61% de popularidade) com o presidente que se vislumbra ser l'homme providentiel – aquele que vem a propósito, no momento certo para resolver uma situação.

A expressão já foi utilizada para descrever Napoleão Bonaparte, que pôs fim ao caos revolucionário. Também valeu para Charles de Gaulle, que tirou a França do atoleiro da guerra na Argélia e criou a presidência imperial da Quinta República. Sarkozy sempre demonstrou impaciência com o distanciamento monárquico de seus antecessores. Não há nada de passivo ou esnobe no novo presidente francês. O país está escandalizado com um caso de pedofilia? Sarkozy defende uma lei que permita a castração química dos pedófilos condenados. Os milionários franceses fogem do país para escapar dos altos impostos? O presidente já conseguiu na Assembléia Nacional a aprovação de leis que reduzem impostos sobre a renda e sobre heranças. O serviço público é constantemente paralisado por movimentos reivindicatórios? Outra lei limitou o direito de greve nos transportes públicos. A semana de 36 horas reduz a produtividade? Outra medida foi criada para incentivar os franceses a trabalhar mais horas por semana. "Considera-se natural um governante aproveitar a popularidade de início de mandato para acelerar seus projetos. Mas Sarkozy está se destacando porque, além de enérgico, é muito hábil em lidar com a mídia", disse a VEJA o cientista político Daniel Gaxie, da Universidade Sorbonne, em Paris.

Há muito ainda por fazer para Sarkozy cumprir a meta de efetuar reformas que deixem a economia da França mais dinâmica – e muita resistência a ser enfrentada por parte dos franceses, que devem sentir na carne a perda de benefícios consolidados. Talvez nada supere a audácia de Sarkozy no campo das relações internacionais. Agora que Tony Blair saiu de cena, o presidente francês é o candidato natural a liderar a Europa em assuntos comuns. A lista de feitos das últimas semanas demonstra que Sarkozy encara essa oportunidade com entusiasmo, ainda que isso cause algum constrangimento ou ciúme entre os seus colegas de outros países. Em apenas três meses, ele já convenceu os vizinhos a indicar um francês para a presidência do Fundo Monetário Internacional, comandou a negociação de um texto reduzido da Constituição européia (rejeitada por franceses e holandeses em referendo) e propôs a criação de uma União Mediterrânea, um acordo político e comercial que incluiria os países do sul da Europa, do norte da África e do oeste do Oriente Médio.

O estilo de liderança do presidente francês inclui boa dose de oportunismo. A Comissão Européia negociava havia meses com o governo da Líbia a libertação de um grupo de enfermeiras búlgaras e de um médico palestino presos fazia oito anos no país. Pouco antes de o acordo se concretizar, a elegante primeira-dama francesa, Cécilia Sarkozy, visitou o ditador Muamar Kadafi, o que permitiu ao marido levar o crédito pela libertação. De quebra, ele saiu da Líbia com um acordo nuclear assinado com Kadafi. Em outras palavras, revigorou o prestígio externo da França e ainda ganhou um dinheirinho. Os franceses deliraram.

UM PEQUENO RETOQUE NOS PNEUS

Neal Hamberg/Reuters
Sarkozy na vida real com seu pneuzinho e na foto retocada (à dir.) nas páginas de Paris Match: ajuda de seus amigos editores

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