Anderson Schneider |
Um em cada quatro brasileiros recebe ajuda do programa Bolsa Família |
O extraordinário poeta Ferreira Gullar escreveu em Versos de Entreter-se que "à vida falta uma parte / – seria o lado de fora – / pra que se visse passar / ao mesmo tempo que passa / e no final fosse apenas / um tempo de que se acorda / não um sono sem resposta. / À vida falta uma porta". Ao Bolsa Família, bem-sucedido programa do governo Lula, também falta uma porta. Um em cada quatro brasileiros, segundo avaliação do Ministério do Desenvolvimento Social divulgada na semana passada, recebe ajuda em dinheiro todos os meses, o que garante a 11 milhões de famílias as condições mínimas diárias de subsistência. Ao Tesouro Nacional, o custo de dar mensalmente pouco mais de 62 reais a cada família, em média, será neste ano de 8,7 bilhões de reais. Quando a ajuda for reajustada para 74 reais, em 2008, o custo anual do Bolsa Família passará dos 10 bilhões de reais. Pela excelente resposta de apoio ao presidente Lula nas pesquisas de opinião e pelos dados de (ligeira) melhora nas condições sanitárias e de saúde dos brasileiros mais pobres, resta pouca dúvida de que o programa realmente ajuda quem precisa.
Uma reportagem desta edição de VEJA mostra que a quase universalização do Bolsa Família, ao desenhar as reais dimensões dos necessitados no Brasil, evidencia o acerto da decisão de aprofundar a assistência em dinheiro. Mostra também que o programa só avançará e perpetuará seus benefícios quando se destravarem as amarras fiscais, legais e burocráticas ao crescimento econômico acelerado da economia brasileira. Só assim virão os empregos e as oportunidades de negócio no volume necessário para abrir os horizontes da renda própria aos atuais beneficiados. Ao mesmo tempo é vital treinar e dar educação profissional aos milhões de brasileiros que estão sendo tirados do lumpesinato.
A essa vida melhor, como no poema, falta uma parte para que não seja, ao final, apenas um sono sem resposta. O sucesso do Bolsa Família sugere fortemente que é hora de pensar em abrir uma porta de saída para os beneficiados de modo que eles, orgulhosamente, possam independer da doação mensal com a conquista de um emprego ou a abertura de um pequeno negócio.