Alexandra Bicca
Brasília. O líder dos Democratas (DEM) no Senado, José Agripino, disse que a entrevista do presidente ao jornal Estado de São Paulo, publicada no domingo, não trouxe notícias e só foi afirmativa quando Lula declarou que "nem com o povo na rua aceitaria o terceiro mandato". José Agripino julgou ser difícil acreditar que Lula realmente descartou ao mandato e perguntou se é possível levar a sério o presidente.
- Ele já disse muitas coisas e não fez - criticou Agripino.
A entrevista tratou de temas como: sucessão, crise aérea, mensalão, economia, reforma política. O presidente afirmou que não concorrerá a um terceiro mandato consecutivo porque, segundo ele, "quem se acha insubstituível vira um ditadorzinho".
Na avaliação do professor de ciência política da Universidade de Brasília Otaciano Nogueira, Lula deu opiniões cautelosas a um jornal conservador sem entrar em polêmicas. Nogueira acredita que o petista deixou claro ser um bom marqueteiro ao dizer que deseja subir no palanque para fazer seu sucessor, apesar de saber que isso é contra a lei.
Nos bastidores, existe a possibilidade de Lula estar se dedicando à aprovação da legalidade de um terceiro mandato. Mas o professor ressalta que o presidente quer manter o PT dentro do grupo que ficará no poder, mas não necessariamente na cabeça de chapa.
Para isso, as articulações que o presidente da República vem fazendo de aproximação com os governadores da base aliada e até mesmo de oposição, caso do governador de Minas Gerais, o tucano Aécio Neves, o que deverá desestimular o PT a ter candidato próprio.
- O presidente Lula já falou várias vezes com o governador mineiro Aécio Neves para que deixe o PSDB e vá para o PMDB para candidatar-se à Presidência - lembra Nogueira.
Otimista no setor econômico e cuidadoso ao falar de crise aérea, o presidente preferiu não tratar diretamente sobre a possibilidade de criar mecanismos para demitir diretores da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Disse apenas que as agências têm o papel de regular (fiscalizar) os serviços e cabe ao governo determinar as políticas públicas a serem implementadas. Para o senador José Agripino, a conduta do presidente e a atuação de toda a sua equipe de governo não dão credibilidade para que essa entrevista seja considerada balizadora.
Ao ver as manchetes dos jornais falando que a crise nos Estados Unidos pode atingir o Brasil, Lula afirmou que nunca esteve "tão tranqüilo" Na sua avaliação, a economia brasileira está constituída em bases muito sólidas e, por isso, caminha também para estabilidade social.
Para o senador Agripino, a postura do presidente neste sentido é bastante preocupante, afinal, a liquidez internacional é que tem garantido os bons resultado da economia do Brasil. Segundo um dos principais líderes da oposição, esse é um erro de avaliação do presidente porque não há como segurar a estabilidade brasileira apenas com o consumo interno.
- O Brasil não sobrevive sem a abertura para o mercado internacional. A compra de commodities brasileiras pelo mercado externo é que assegura os bons resultados da balança comercial. Sem a liquidez internacional, o Brasil estaria longe dos US$ 160 bilhões em reservas no exterior - avaliou Agripino.