Sky, o novo programa do Google, permite a observação
de milhões de constelações e galáxias pela web
Carlos Rydlewski
Fabian Bimmer/AP |
Samuel Widmann, do Google Earth, apresenta o Sky no planetário de Hamburgo: um telescópio virtual |
A internet transformou-se no maior observatório astronômico existente no planeta. Na semana passada, o Google lançou o Sky, uma extensão do Google Earth, que permite a visualização de 100 milhões de estrelas e 200 milhões de galáxias. As ferramentas disponíveis no programa oferecem a qualquer usuário da web uma visão do universo antes só possível para astrônomos profissionais. "Agora, todos podem apreciar, explorar e descobrir a nossa frágil posição neste enorme e estranho universo", resumiu Francisco Diego, do departamento de física e astronomia da Universidade de Londres, que colaborou com o projeto. Versátil, o software está disponível em treze idiomas, incluindo o português, e não exige grande capacidade de memória ou de processamento do computador.
É possível encontrar no Sky todas as constelações do firmamento, da Cassiopéia, cujos principais astros formam um "W", até Órion. No céu do Google são identificados todos os nomes e desenhos desses grupos de corpos celestes, com as estrelas que os compõem. Para circular pelo cosmo, usa-se um joystick virtual, localizado na parte superior direita da tela. O dispositivo permite que se mergulhe no universo, como nos filmes que mostram viagens estelares feitas na velocidade da luz. As estrelas são vistas em três dimensões à medida que se aproximam e são ultrapassadas. O joystick também permite movimentos laterais do trecho observado do céu. Nesses deslocamentos, a sensação é a de estar num planetário.
Mergulho no espaço: página do Sky mostra informações e a órbita da Lua e de Netuno, sobre a imagem de grupos de constelações |
Uma função do Sky foi batizada de Quintal Astronômico. Ela destaca as estrelas, as galáxias e as nebulosas que podem ser vistas a olho nu ou com o auxílio de binóculos e pequenos telescópios. Tem como objetivo ajudar as pessoas, principalmente os astrônomos amadores, a reconhecer com maior facilidade áreas do céu à noite. O programa conta com 120 fotos em alta resolução, feitas pelo telescópio Hubble, a mais potente máquina usada para produzir imagens do espaço. Foi com a utilização desse equipamento que os pesquisadores conseguiram comprovar a existência de buracos negros no núcleo das galáxias e entender o processo de nascimento e morte das estrelas. Quando se clica sobre uma dessas fotos, a tela mostra um quadro com textos informativos, retirados do banco de dados da agência espacial americana, a Nasa. O programa também está conectado diretamente à Wikipédia, a enciclopédia da web.
O Sky permite observar a trajetória desenhada no céu pelos planetas do sistema solar durante um período de dois meses. É possível, por exemplo, localizar Netuno no firmamento em um determinado dia e hora. Ou identificar a posição da Lua e mostrar em que fase estava o satélite naquele momento. Os astronautas virtuais podem ainda usar o Sky para fazer turismo pelas galáxias saltando da Via Láctea para Andrômeda ou para as Nuvens de Magalhães. Ou até realizar uma jornada passando por todo o ciclo de vida de uma estrela. Para colocar o universo dentro do computador, o Sky utilizou imagens da Nasa e de seis observatórios internacionais. Por meio de softwares específicos, as fotos foram agrupadas umas ao lado das outras até que se formasse uma imagem nítida de cada recanto conhecido do universo – uma construção semelhante à executada com as imagens de satélite da superfície da Terra no Google Earth.
Divulgação |
Um passeio em 3D no guia virtual do Google Maps: por enquanto, só em cidades americanas |
A estrutura do Sky, criada por engenheiros do Google especialmente interessados em astronomia, sediados em Pittsburgh, nos Estados Unidos, será aprimorada e enriquecida por meio de iniciativas da empresa do Vale do Silício e também por ação direta de usuários da internet. Isso já acontece com todos os serviços da empresa que unem geografia, imagens e internet, como o Google Earth, que acumula mais de 200 milhões de downloads, e o Google Maps. Lançada no fim de maio, uma das novidades mais impressionantes do programa de mapas é o Google Maps Street View. O recurso permite que uma pessoa observe uma rua – com as fachadas das lojas, as casas e os carros – como se estivesse circulando pela calçada. É possível realizar giros de 360 graus. O mais interessante é que, nesses movimentos, as imagens não são quebradas, mas contínuas. Para conseguir esse efeito, fotos de ruas de nove cidades americanas, onde o serviço está disponível, foram feitas por uma câmera especial, com onze objetivas e onze sensores, montada num dodecaedro, um objeto com doze faces, e instalada no teto de um carro. Com esse tipo de mapa, será possível conhecer em detalhes uma cidade sem sair da frente do computador. Isso, claro, para quem não quiser dar uma voltinha pelo universo.
NASA |
Nebulosa do Caranguejo: Sky inclui 120 imagens como esta, feitas pelo Hubble |
TODAS AS FOTOS REUNIDAS NUMA SÓ
A construção de espaços virtuais em três dimensões é uma tendência irreversível da internet. Um dos programas mais espetaculares para a formação desse tipo de ambiente começa a sair dos laboratórios. Trata-se do Photosynth, desenvolvido pela empresa americana Seadragon, adquirida em 2006 pela Microsoft. Demonstrações do produto, ainda em versão de teste, foram feitas para recriar na web objetos em 3D tão variados como o ônibus espacial Endeavour, da Nasa, e prédios históricos. Para erguer esses espaços virtuais, o Photosynth usa fotos tiradas por qualquer pessoa que estejam disponíveis na web. O programa pode procurá-las automaticamente na internet. O sistema reconhece as similaridades existentes entre milhões de cenas e as reúne como se fosse uma ferramenta de busca – de forma semelhante à seleção que o Google faz de páginas que contenham determinada palavra.
Feita a escolha, as imagens são colocadas em uma espécie de molde em 3D, como mostra a seqüência de ilustrações ao lado, e vão se aproximando da versão final. O Photosynth vai mais longe: o software também pode criar imagens artificiais, para preencher pequenos buracos ou detalhes do cenário não encontrados nas fotografias disponíveis. Em uma demonstração pública realizada em março, um dos criadores do sistema, o cientista da computação Blaise Agüera y Arcas, formado em Princeton, produziu uma imagem em três dimensões da Catedral de Notre Dame, contando apenas com fotos postadas por turistas no site Flickr, do Yahoo!. Amostras do potencial do Photosynth, cujo desenvolvimento também conta com a participação da Universidade de Washington, podem ser conferidas no site da Microsoft Live Labs (http://labs.live.com/photosynth/). Algo semelhante ao Photosynth foi feito pelo Google Earth, em Berlim. Com base em fotos, mas especialmente produzidas para o programa, foram construídos moldes virtuais em três dimensões de 550 prédios do centro da capital alemã. Por cinco dessas construções, já é possível passear internamente em excursões virtuais.