Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, agosto 23, 2007

Clóvis Rossi - Meirelles é mais que Bernanke

Clóvis Rossi - Meirelles é mais que Bernanke


Folha de S. Paulo
23/8/2007

Henrique Meirelles goza de mais independência do que Ben Bernanke, o presidente do banco central dos EUA, embora o Fed esteja protegido por lei, ao contrário do BC brasileiro.
É uma dedução lógica a partir das cenas explícitas de pressão sobre Bernanke exibidas no encontro que ele manteve com um representante do Executivo (o secretário do Tesouro, Henry Paulson) e um do Legislativo (o senador democrata Christopher Dodd).
Dodd, ao relatar o encontro, disse que Bernanke está preparado para usar todos os meios disponíveis para amenizar a crise. Obviedade?
Apenas aparentemente. Qualquer autoridade é obrigada a estar sempre preparada para usar todos os meios para amenizar crises. O que Dodd na verdade quis dizer -e os mercados entenderam- é que o Fed pode até reduzir os juros para conter a crise, tal como pedem os mercados, mas está longe de ser consenso entre analistas.
O editorial de ontem do "Financial Times", por exemplo, diz que uma medida como essa, por indiscriminada, cria "moral hazard" nos mercados (beneficia também quem arriscou demais e deveria ser punido por isso), além de "ter uma boa chance de não funcionar".
Voltando a Meirelles: o presidente Lula pode até ter pedido, reservadamente, queda dos juros ou do real, ou ambas as coisas, mas jamais submeteu o presidente do BC a cenas públicas de pressão.
O presidente sentiu, antes mesmo da posse, que o único fator desestabilizador para seu governo poderiam ser os mercados e suas apostas. "Comprou-os" com a independência de fato dada a Meirelles.
Aliás, a primeira parcela da compra foi a "Carta ao Povo Brasileiro", que o futuro ministro Antonio Palocci conta em livro ter negociado com João Roberto Marinho, das Organizações Globo, por ter este "um radar bastante atento às mudanças de humor do mercado".

crossi@uol.com.br

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