Entrevista:O Estado inteligente

sábado, agosto 25, 2007

MILLÔR

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QUEM É VIVO
SEMPRE DESAPARECE.

BARATA – A SOBREVIVENTE

Vocês talvez não tenham reparado, mas a relação humana com o inseto, o mosquito, a pulga, o carrapato, a formiga, o gorgulho, e sobretudo a barata, é uma relação de mão dupla, toma lá da cá ou, mais exatamente, pica lá pisa cá. Pra sua sobrevivência os insetos dependem fundamentalmente do homem, seus afins e subprodutos: latas de lixo, cocô de cachorro, papel pega-mosca, DDT, sangue, açúcar na cama. E coxas – nem me perguntem como eles sobreviviam quando vocês ainda não freqüentavam motéis na Barra. Por outro lado, sem os insetos não teríamos seda, cega-rega, mel, zumbidos, rãs gordinhas, malária, doença de Chagas e nojo de barata.

Seja dito: é evidente que vocês estão ultrapassados nessa imensa petulância homocêntrica. Quando ninguém mais se lembrar de vocês, alguns bichinhos ainda andarão por aí, procurando a quem morder ou simplesmente chatear. Principalmente a barata.

Dou a vocês o direito de duvidar do que digo. Mas não admito que duvidem desse admirável ser humano (como o cachorro do Magri) – a barata. Exponho aqui sua biografia e funções anatômicas pra que aprendam a respeitá-la. Medo já têm.

Importante: não consultei o Google, essa cultura prêt–porter.

Celeiro – As baratas têm um, esôfago, pra guardar comida. Pré-mastigada, pós-mastigada ou remastigada, a barata nem liga. Se a comida não foi devidamente mastigada, esta segunda dentição mastiga tudo de novo.

Intestino intermediário – Parte do meio do intestino, por onde a barata absorve nutrientes complementares.

Túbulos – Nome elegante para os rins da barata. Alteram o "sangue" que flui pelo trato digestivo, limpando as impurezas.

Cólon – Cólon e reto. As baratas também têm. Por aí fazem a digestão e processam o poop (se vocês querem linguagem menos anglófila, o cocô).

Coração – Querem agradar à barata? Dêem-lhe um fio de macarrão. Ela adora. Deve ser porque seu coração é como um tubo. Palpita pra trás e pra frente. E pode até parar que a barata continua sobrevivendo. O sangue flui livremente através de outra cavidade no corpo da bichinha.

Pulmões – A barata respira por uma porção de pequenos orifícios, que distribuem oxigênio pra todas as partes do corpo.

Corpo gorduroso – É aquela nojeira branca que surge quando você pisa numa barata. Como a dos humanos, essa gordura é reserva de energia. E ajuda a destoxificar (destruir os tóxicos) desses inseticidas ingênuos que jogam sobre ela.

Cérebro – As baratas têm pedaços de cérebro em todo o corpo. A cabeça encerra a maior parte do sistema nervoso, o cérebro propriamente dito. Mais "cérebros" são espalhados a intervalos regulares na parte ventral, com pedaços especiais para as duas pernas. Assim, se vocês cortam a cabeça de uma barata, ela ainda vive. Só morre de fome ou de sede, umas duas semanas depois.

Olho – Cada olho da barata é feito de 2 000 lentes. Olhos compostos. Os olhos humanos têm apenas uma lente.

Pernas – As pernas da barata têm cabelos, que informam a barata se ela está de pé – obrigando-a a boas maneiras.

Antenas ou sensores – Dão à barata o sentido do odor. São extremamente sensíveis ao cheiro da comida. A barata-macho tem sensores especiais que informam quando uma fêmea está querendo.

Cercus – Aqueles dois cabelinhos no fim das baratas. Funcionam como birutas de aeroporto. Quando alguma coisa ou pessoa se aproxima produz sempre um ventinho. A barata escapa em direção contrária.

Boca – Notável. Além do gosto, tem sentido de odor. Move-se de lado a lado e não de cima pra baixo, como a de vocês.

Reprodução – Quando a fêmea barata quer um macho, segrega um odor (feromona) que deixa o barato louco. Então ele introduz nela uma quantidade de esperma que a mantém grávida pelo resto da vida. Produzindo, de cada vez, um "pacote" de 16 a 64 baratinhos.

Sintetizando: se houver mesmo esse tão prometido e tão adiado holocausto atômico, a barata se salvará, se alimentando alegremente com vossas carcaças radioativas. E de Marte nem se notará a vossa falta.

Bem, eu estarei em Petrópolis.

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