Entrevista:O Estado inteligente

sábado, agosto 25, 2007

Celso Ming

Caminho de volta

Os mercados ainda estão assustados e esse estado de espírito vai mantê-los entocados por mais algum tempo. Mas, se não houver nenhuma grande quebra e as perdas se tornarem conhecidas, os mercados voltarão às aplicações de risco.

Essa crise mostrou que há pouco refúgio nas fugas para a segurança, como observou o professor Ricardo Caballero, do Massachusetts Institute of Technology, de Boston, no Congresso do Mercado Financeiro, da BM&F, que se encerra hoje em Campos do Jordão. Os portos seguros são os títulos triple A, os ativos mais seguros do mercado, classificados com a nota AAA pelas agências de classificação de risco. A maior parte deles corresponde aos títulos do tesouro dos países ricos, os treasuries. Os treasuries de referência são os títulos do Tesouro dos Estados Unidos, os T-Bonds e as T-Notes, de 30, 10 ou 3 anos.

Nos últimos dez anos, a demanda por esses títulos cresceu porque muitos países emergentes (Brasil entre eles) formaram reservas externas que estão aplicadas nesses títulos. Há cerca de US$ 4 trilhões desses títulos nas carteiras dos bancos centrais.

O principal efeito do aumento da procura dos treasuries pelos bancos centrais foi o achatamento do rendimento (yield - veja gráfico). Quando uma corrida para a segurança, como a das últimas semanas, exacerba a procura, o rendimento fica menor. Na semana passada, a T-Note de 10 anos chegou a pagar 4,6% ao ano, um retorno que quase não compensa as perdas com a inflação americana mais o Imposto de Renda (de 15% sobre os ganhos) e as comissões pagas aos intermediários.

Ora, esse achatamento do yield dos títulos de primeira linha é o primeiro incentivo à volta às opções de risco. Essa gente já vinha cultivando a opção de risco e só numa emergência trocou sua posição por mais segurança. Na primeira oportunidade, voltará a buscar mais yield. Talvez não volte às emoções dos segmentos subprime, que se revelaram arriscadas demais, ao menos enquanto não surgir uma regulação que os torne mais confiáveis. Mas buscarão outras opções de risco.

Por falar em regulação, também em Campos do Jordão, a número dois do Fundo Monetário Internacional, Anne Krueger, observou que toda crise tende a instalar a tranca na porta arrombada. As crises da Enron e da WorldCom, em 2001 e 2002, produziram nos Estados Unidos a Lei Sarbanes-Oxley, que exigiu maior rigor nas demonstrações contábeis. A crise atual provavelmente vai preparar nova tranca. Mas a criatividade do mercado e a fome de retorno produzirão outros atalhos em direção ao maior lucro, que produzirão outras crises, que, por sua vez, induzirão a outras regulações.

Assim como hoje há escassez de opções de segurança, também há escassez de opções confiáveis de alto retorno. E é aí que o Brasil pode se dar bem. A economia brasileira mostrou capacidade de resistência à crise. A proximidade da obtenção do grau de investimento, a retomada do crescimento econômico e as boas perspectivas para o etanol podem criar novas oportunidades para aplicações de risco no Brasil.

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