Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, outubro 12, 2006

Para FHC, 'PT não tem visão democrática'

Para FHC, 'PT não tem visão democrática'

Ex-presidente afirma que os escândalos da gestão Lula nasceram da 'promiscuidade' do partido, que 'ocupou a máquina estatal'

Jamil Chade

O que separa o PT do PSDB não é tanto o projeto econômico nem a política social, mas a democracia e a concepção de Estado. A avaliação foi feita pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em entrevista publicada ontem em um dos principais jornais suíços, Le Temps. 'O PT não tem uma visão democrática', disse o ex- presidente, que não poupou críticas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva por causa da 'promiscuidade do PT e da estagnação da economia'.

Para Fernando Henrique, 'o PT ainda pensa que precisa ocupar a máquina estatal para reformar a sociedade'. 'É exatamente por causa dessa promiscuidade que nasceram os escândalos em que está implicado (o PT)', afirmou. Na avaliação do ex-presidente, a sociedade precisa ser independente do Estado e transformações devem ser 'frutos de um diálogo'. 'É nisso que eu estimo ser à esquerda de Lula', disse ele.

Fernando Henrique afirmou que o PT se recusou a fazer uma aliança com o PSDB quando Lula foi eleito, em 2002. 'O PT decidiu que seríamos os adversários e preferiu comprar o apoio dos pequenos partidos por clientelismo.'

Entre os candidatos à Presidência Geraldo Alckmin (PSDB) e Lula, Fernando Henrique Cardoso acredita que as maiores diferenças não estejam no conteúdo de suas propostas econômicas ou sociais. 'Os estilos são diferentes. O PSDB faz menos retórica e tem uma visão mais republicana na relação entre partido e Estado', disse, acrescentando que não existiram escândalos na gestão de Alckmin no governo de São Paulo.

Para Fernando Henrique, a divisão de votos no Brasil não é entre ricos e pobres. 'A divisão é entre um Brasil atrasado e um mais moderno.' E afirmou que no Nordeste ricos e pobres votaram em Lula.

Para provar que não há essa divisão de classe nas eleições, FHC frisou que as bolsas de valores também teriam subido se Lula tivesse vencido no primeiro turno. 'Lula é ao mesmo tempo o pai dos pobres e a mão dos ricos. Ele não ameaçou seus interesses, muito pelo contrário.'

O ex-presidente não acredita que se Lula perder a eleição ocorrerá tensão social no País. 'O PT não tem a capacidade de mobilização de antes e o PSDB é favorável à reforma agrária.'

No plano econômico, reconheceu 'a política econômica responsável' mantida pelo PT. 'Mas o crescimento ficou estagnado, apesar da abundância de liquidez no mercado mundial. Para combater a inflação, o governo manteve taxas de juros elevadas, quando já não era necessário. Lula tem margem maior de manobra para baixá-las do que eu tinha. Não há hiperinflação e nem crises financeiras internacionais que eu tive de enfrentar', concluiu.

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