Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, agosto 09, 2007

Jânio de Freitas - A fria dos cubanos

J


Folha de S. Paulo
9/8/2007

O governo sonegou a clareza das razões de repatriamento, da legalidade da formalização e da urgência aplicada no caso

AS ACUSAÇÕES de que o governo evitou a concessão de asilo e deportou impropriamente os dois pugilistas cubanos, fugitivos da delegação de Cuba no Pan, até agora faz lembrar as imediatas explicações e culpas lançadas em seguida à tragédia de Congonhas. O governo, em certa medida, por certo errou na operação. Mas o desenrolar do caso, entre a fuga dos pugilistas e sua saída do Brasil, ainda está repleto de zonas obscuras e de contradições em que um dos lados tem que ser mentira fabricada.
A polícia já comprovou que os tais agentes alemães de um empresário de boxe, que seriam os indutores da fuga e estariam aguardando os passaportes falsos para a saída dos cubanos, (já) estavam na Alemanha enquanto Guillermo Rigondeaux e Erislandy Lara continuavam em uma pousada na região de Araruama, no Rio.
Iriam os agentes deixar os dois cubanos assim à solta, enquanto tomavam providências na Alemanha? Estranho, mas pode ser que confiassem no interesse de ambos de ir para a Europa. Ou havia um negócio que não se completou, e os alemães partiram e os cubanos ficaram zanzando por aí? Ou nem havia negócio algum? Assim como os alemães, as prostitutas que acompanhavam os lutadores, segundo uma reportagem que os teria descoberto perto de Niterói, nem foram vistas na pousada que os hospedava em Araruama.
Daí saíram, ao que testemunha o hospedeiro, depois de entrar apenas para pegar as malas já deixadas prontas, sem aparência de estarem presos pelos PMs fluminenses que os aguardavam (todos vindos, diz-se, de "uma praia onde os fugitivos foram reconhecidos"). A informação da Polícia Federal, que os recebeu, é de que recusaram asilo e pediram para voltar a Cuba, nem ao menos dispostos a entender-se com os dois advogados que lá estiveram para assessorá-los.
Os motivos da movimentação dos dois cubanos permitem muitas hipóteses. O que é suficiente para haver poucas certezas. Duas, porém, estão disponíveis. O governo errou. Errou politicamente, como sempre, levado pela má comunicação e pela auto-suficiência. A ser verdadeiro o desejo dos cubanos de voltar logo para casa, o governo negou à opinião pública a clareza dos motivos de repatriamento, da legalidade de sua formalização e da urgência aplicada. E, além de sonegar clareza, a surdina do procedimento refletiu a presunção expressa no sentimento do "nunca neste país".
A outra certeza foi dada por Fidel Castro. Com os castigos adjetivos e esportivos recebidos pelos recém-chegados a Havana, ficou demonstrado que eles tinham razões para decidir pela fuga, seja o que for que a tenha abortado.
Há o que investigar na parte brasileira desse caso, e fazê-lo é, ainda, uma dívida do governo e, em especial, do seu Ministério da Justiça. Enquanto se aguarda, vamos lendo e rememorando aqueles termos sumidos desde o fim da Guerra Fria.

Perdidos e achados
"Sumiram 190 mil armas doadas pelos EUA ao governo do Iraque". Já procuraram no Brasil?

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