Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, agosto 09, 2007

Eliane Cantanhede - "Calma, calma"



Folha de S. Paulo
9/8/2007

A queda do TAM 3054 mexeu com as feridas dos parentes das vítimas do Gol 1907 e do esquecido Team 6865, um bimotor turbo que caiu em Rio Bonito (RJ) em 31 de março do ano passado, matando todos seus 19 ocupantes.
Ontem, a gaúcha Rosane, mãe de uma menininha que completa 5 anos no dia 15 e viúva de Rolf Gutjahr, morto no vôo da Gol, me mandou um e-mail sofrido que insiste numa pergunta recorrente: o que há sobre a caixa-preta do Boeing?
Até onde eu saiba, as gravações contribuem muito pouco para as investigações, porque o Gol entra na história na única condição de vítima, com 154 pessoas a bordo. O mais marcante é que foi tudo rapidíssimo, questão de segundos. Não houve tempo para gritos nem desespero. Na cabine, mal se ouvem duas palavras: "Calma, calma". A voz foi provavelmente do piloto Décio Chávez Jr., enquanto agarrava o manche com força.
A partir do choque com o Legacy, a fita só registra essa fala, apitos estridentes, ruídos de equipamentos e o barulho do vento com o avião caindo vertiginosamente em espiral: "vrum, vrum, vrum". Muito pesado, com 154 pessoas e no mínimo 30 toneladas de combustível, além da fuselagem, tudo indica que o Boeing atingiu a velocidade supersônica e se desintegrou no ar.
Isso explica por que não houve explosão nem fogo com o choque no solo: o querosene já teria escapado em pleno ar. Explica também por que os destroços se espalharam por um raio tão grande: o avião foi soltando pedaços já em pleno ar.
Tudo deverá ser confirmado no mês que vem com as conclusões finais sobre o acidente com o Boeing da Gol, que caiu em 29 de setembro do ano passado. E o bimotor da Team, que caiu seis meses antes?
Até agora, não há um pio sobre causas nem um tostão de indenização. Tudo o que as 19 famílias mereceram foi isso: silêncio e dor.

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