Entrevista:O Estado inteligente

segunda-feira, maio 01, 2006

Nunca antes Denis Lerrer Rosenfield

OESP

"Nunca antes" o Brasil viveu um clima de tanta transparência. Por todos os poros do aparelho de Estado transparecem uma moralidade e uma lisura dos costumes jamais vistas em nosso país. Graças ao companheiro Lula e a seu firme timão, nenhum assunto de corrupção, de organização criminosa, caixa 2 ou algo que o valha ganhou as manchetes dos jornais e os principais programas televisivos. Jamais a retidão republicana foi um valor tão prezado. Os poucos casos de renúncia de ministros e dirigentes partidários se deveram a que esses honrados indivíduos, depois de meses e anos de extraordinária labuta, decidiram dedicar-se a seus afazeres pessoais. O presidente, do alto de sua generosidade, soube compreender as razões de seus "companheiros". Alguns, de tão próximos, foram até chamados de "irmãos". O ambiente de moralidade e de justiça transpira um reino dos mais puros sentimentos morais.

"Nunca antes" uma companhia petrolífera, no mundo, conseguiu chegar à auto-suficiência de petróleo em três anos e quatro meses. Um feito inigualável que deveria fazer parte de um livro internacional de recordes. Graças ao descortino do companheiro presidente, a Petrobrás consegue hoje suprir todas as necessidades do País. Não se trata, como alguns críticos maldosos querem fazer crer, da reinvenção da roda, mas da invenção da verdadeira roda, aquela que permite alavancar definitivamente o crescimento do País. Antes da chegada do companheiro Lula ao poder, aquela companhia conhecida como Petrobrás era apenas um homônimo desta que conhecemos, um nome usado indevidamente para designar a verdadeira companhia atual. Para marcar a inovação e a criatividade alguns companheiros mais afoitos teriam cogitado de mudar o nome da companhia, para evitar qualquer confusão com a anterior. O presidente, no entanto, com sua bem conhecida generosidade, deixou transparecer uma continuidade que, como todos sabemos, é apenas aparente.

"Nunca antes" um governo soube dar continuidade ao governo anterior fazendo tudo diferentemente. Após ter recebido uma "herança" corretamente qualificada de "maldita", o companheiro Lula não a maldisse, como seria de seu direito. Do ápice de sua sabedoria, soube conservar as poucas conquistas do governo anterior, dignificando-as talvez, para não ferir suscetibilidades. Conseguiu, assim, criar um clima de entendimento com as oposições que se traduziu pela implementação célere de emendas constitucionais que tinham como único objetivo o bem do País. Não foi necessário comprar deputados, uma prática corriqueira de todos os governos anteriores desde Pedro Álvares Cabral e, também, de antes de sua chegada ao Brasil, pois os indígenas não conheciam ainda a ética na política, que seria introduzida apenas no final do século 20 por um partido afeito às melhores formas de conduta moral. Mensalão e outras coisas do gênero, como todo mundo sabe, são práticas da "direita", dos "conservadores", ferrenhamente combatidas pelo intrépido companheiro presidente. Quando este disse que nada tinha visto ou ouvido à sua volta no que diz respeito a uma suposta corrupção, ele não faltava minimamente com a verdade, pois não havia nada a ser visto ou ouvido. Quem diferentemente entendeu é porque agiu com manifesta má-fé.

"Nunca antes" os "movimentos sociais" foram tão respeitados. Alguns que desconhecem a profunda realidade brasileira - pois o companheiro Lula tem o dom das coisas profundas - tratam movimentos como o MST como se fossem organizações políticas, com propósitos revolucionários, que usam da violência para implantar o socialismo no Brasil. Quando esse "movimento" invade uma propriedade privada, ele não a está invadindo, mas ocupando amigavelmente mediante um diálogo frutífero e respeitoso com esses falsos proprietários. E digo sem equívoco falsos proprietários, embora não o saibam, pois a própria propriedade privada no mundo, e desde os seus primórdios no Brasil, nada mais é que uma usurpação da propriedade coletiva da terra. Logo, falar de títulos de propriedade ou de empreendimentos produtivos traduz somente uma má compreensão de um problema originário, aquele que diz respeito às origens, e que foi sabiamente resolvido pelo MST e pela Comissão Pastoral da Terra. Se há rusgas - e não meço as palavras, pois se trata de meras rusgas entre irmãos, entre ocupantes "verdadeiros" e proprietários "falsos" -, elas serão facilmente equacionadas pelo sábio companheiro presidente, que possui a verdadeira compreensão do problema. Jamais em nossa história tivemos alguém tão preparado para o exercício da Presidência da República. A sua sabedoria consiste em fingir ignorância, enquanto o presidente anterior fingia sabedoria quando era, na verdade, ignorante. O companheiro Lula, porém, prefere não expor as coisas dessa maneira, pois sabe que um governo sábio prescinde dessas coisas menores, derivadas do orgulho e da soberba.

"Nunca antes" a oposição foi tão vingativa. O seu despreparo fica patente ao querer suscitar problemas inexistentes como o de uma suposta corrupção ou de um suposto valerioduto, algo que de tão estranho aparece como jocoso. Devemos não medir palavras e dizer diretamente: as oposições não suportam tal transparência, tal retidão, tal descortino e tal sabedoria de um partido, de um governo e de seu presidente que souberam colocar o País no rumo da perfeição. O presidente sabe que, das coisas terrenas - por definição, imperfeitas -, poucas são imunes a seu trabalho de elaboração, colocando-as na direção certa, algo que sua inteligência de esquerda sabe tão bem prover. A direita parece que nunca aprende e quer apenas golpeá-lo para voltar ao poder. Isto, no entanto, jamais será conseguido, pois o companheiro Lula e seus companheiros de partido são imunes a essas fraquezas humanas.

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